É tempo de silêncio, de escuta e de ler as Encíclicas de Francisco.
O que marca o pontificado do Papa Francisco é o legado da misericórdia, da tolerância, da inclusão e da Esperança. O sorriso de um homem bom.
Recordo que a primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco foi um anúncio do Evangelho no mundo atual. A Evangelii Gaundium recomendou que a Igreja deve sair de si própria anunciando a beleza do Evangelho. Parece-me que foi com esse desejo que terminou o seu pontificado e deixou de herança um dos seus maiores projectos – o sínodo. A sinodalidade de Francisco é essa abertura na busca da resolução para os novos desafios do mundo atual. Todos, todos, todos são chamados à “reforma estrutural” da Igreja.
No ano em que foi eleito, 2013, com a Encíclica Lumen Fidei, Francisco colocou a fé no centro, como caminho para o fundamento último de Deus. O Papa Francisco recordou a falácia da fraternidade, bandeira da Idade Moderna, que «privada do referimento a um pai comum como seu fundamento último, não consegue subsistir; por isso, é necessário voltar à verdadeira raiz da fraternidade». É graças à fé que «compreendemos a dignidade única de cada pessoa», é a fé que nos faz «olhar com maior respeito para a natureza», é a fé que nos faz «estar ao serviço do bem comum».
Dois anos depois, em 2015, o Papa volta a escrever para o mundo apelando ao respeito e ao uso responsável de tudo o que Deus colocou à disposição de todos. A Terra como «nossa casa comum» tem de ser protegida, e os seus recursos poupados e respeitados. «O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral…» e mais à frente, na mesma Encíclica Laudato Si, o Papa reitera que «o bem comum pressupõe o respeito pela pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados para o seu desenvolvimento integral. Exige também os dispositivos de bem-estar e segurança social e o desenvolvimento dos vários grupos intermédios, aplicando o princípio da subsidiariedade».
Ao longo do seu pontificado, consciente dos problemas que afetam o mundo, da crise dos refugiados e da urgência de uma resposta cabal dos chefes Estado para a resolução dos conflitos armados, Francisco apontou para a imprescindível relação entre a solidariedade e a subsidiariedade e para a importância da diplomacia na gestão da crise global.
Em 2020, na Encíclica Fratelli Tutti, e perante os novos desafios da comunicação humana, Francisco clama por reflexão, profundidade e serenidade: “ao desaparecer o silêncio e a escuta, transformando tudo em cliques e mensagens rápidas e ansiosas, coloca-se em perigo esta estrutura básica duma comunicação humana sábia. Cria-se um novo estilo de vida, no qual cada um constrói o que deseja ter à sua frente, excluindo tudo aquilo que não se pode controlar ou conhecer superficial e instantaneamente. Por sua lógica intrínseca, esta dinâmica impede aquela reflexão serena que poderia levar-nos a uma sabedoria comum.”
Na última carta aberta ao mundo que nos deixou – a Dilexit Nos– constata que “hoje tudo se compra e se paga, e parece que o próprio sentido da dignidade depende das coisas que se podem obter com o poder do dinheiro. Somos instigados a acumular, a consumir e a distrairmo-nos, aprisionados por um sistema degradante que não nos permite olhar para além das nossas necessidades imediatas e mesquinhas.” E por isso lembra aos fiéis que “o amor de Cristo está fora desta engrenagem perversa e só Ele pode libertar-nos desta febre onde já não há lugar para o amor gratuito. Ele é capaz de dar coração a esta terra e reinventar o amor lá onde pensamos que a capacidade de amar esteja morta para sempre.”
Para crentes e não-crentes, ontem, dia 21 de Abril de 2025, foi um dia triste: partiu o Papa Francisco. É tempo de silêncio, de escuta e de ler as Encíclicas de Francisco.