Tranquilidade numa noite de verão

Filomena Gonçalves, Fundadora do Change Booster Project

A versão mais pessimista da minha pessoa diria que estas ocorrências poderão ser mais frequentes do que gostaríamos, considerando a instabilidade geral do mundo, bem como a forma interligada como tudo acontece. Recordo que a UE tem sugerido que os cidadãos tenham reservas em casa para 24h a 72h, para situações de emergência. Eles lá devem saber porque o dizem…

“Deve ser o fim do mundo” dizia alguém quando se soube que o apagão atingira toda a Península Ibérica e outras zonas da Europa. Outra pessoa assegurava-me que se tratava de um ciberataque. Uma coisa é certa, desta vez a culpa não foi da cegonha!

Com efeito, o mundo não acabou. Tivemos uma nova oportunidade de parar, deixar a tecnologia de lado e encontrar formas alternativas de ocupar o tempo, na companhia de familiares e amigos – ou animais de estimação, como foi o meu caso.

Deveríamos ter desfrutado destas horas tranquilamente. O que dirão, contudo, aqueles que ficaram presos no Metro, ou nos elevadores? E os que não conseguiram chegar ao trabalho? E os desmazelados – como eu – que nunca andam com dinheiro na carteira, arriscando-se a ficar sem comida? No meu caso, tive a sorte de me oferecerem o almoço, pois as moedas que timidamente tilintavam no meu bolso não eram suficientes para mais do que uma sopa… e fria, por sinal.

Fiquei a pensar em como é importante mantermos hábitos de vida sustentáveis, que nos permitam alguma flexibilidade em casos como este, não só por nós mesmos, mas até para podermos ajudar outros à nossa volta.
Por exemplo, ter algum dinheiro em casa para emergências é fundamental. Também algumas comidas que duram 1 ano, ou mais, sem esquecer água engarrafada, que pode durar de 1 a 2 anos se for conservada em vidro.

Pode ser útil, também, termos sempre à mão um rádio a pilhas. Nunca me lembraria de um rádio a pilhas, a não ser por ter ficado sem qualquer tipo de comunicação digital e só me restar ouvir notícias no rádio do carro.

A versão mais pessimista da minha pessoa diria que estas ocorrências poderão ser mais frequentes do que gostaríamos, considerando a instabilidade geral do mundo, bem como a forma interligada como tudo acontece. Recordo que a UE tem sugerido que os cidadãos tenham reservas em casa para 24h a 72h, para situações de emergência. Eles lá devem saber porque o dizem…

Mas os hábitos sustentáveis passam, também, pela nossa atitude, por sabermos viver bem, independentemente de a tecnologia estar mais ou menos acessível. De arranjarmos tempo para parar, estar no silêncio e contemplar, aquele “dolce far niente” que tão bem conhecem os italianos. Já reparou como soa estranho ver uma pessoa na rua aparentemente sem fazer nada? Chega mesmo a parecer suspeito.

Quando a tecnologia fica inacessível, as pessoas apreciam melhor as riquezas naturais como o canto dos pássaros, uma paisagem verdejante, uma noite estrelada – que nas cidades, por norma, é difícil. Na zona onde moro, viam-se pessoas a espreitar à janela e outras a passear animadamente pelas ruas, a aproveitar a bela noite de verão. Escutavam-se vozes e gargalhadas dentro das casas, uma vez que sem a tecnologia operacional, houve uma redução do ruído ambiente. Acima de tudo, pudemos viver ao nosso ritmo e não ao da máquina, mesmo que apenas por algumas horas.

Neste mundo em que tudo está interligado, de facto não é confortável ficar sem eletricidade, porque sem ela ficamos privados de coisas essenciais, como a água. Mas enquanto seres inteligentes, deveríamos ser capazes de racionar as facilidades que a eletricidade nos permite, reduzindo-as ao essencial.

A sustentabilidade começa precisamente aqui, nos nossos hábitos. Lanço um desafio: aproveite esta oportunidade para implementar um novo hábito sustentável na sua vida, mesmo que seja apenas largar a tecnologia enquanto está a jantar. Lembre-se: hábitos sustentáveis, geram pessoas felizes!

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