Ana Cavalieri, investigadora em política americana no Instituto de Estudos Políticos da UCP e comentadora de política internacional na SIC Notícias, ao Estado com Arte Magazine comenta diretamente de Nova York o balanço dos 100 dias do Trump.
É licenciada em Direito pela Universidade Católica Portuguesa, mestre em Direito e Gestão pela Faculdade de Direito e pela Lisbon School of Business & Economics da UCP, é mestre em Ciência Política pela New School for Social Research, em Nova Iorque. Tem estudos de pós-graduação nas áreas de Justiça de Transição, Direitos Humanos, Mulheres, Paz e Segurança na New York University, e na London School of Economics and Political Science, em Londres.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, celebrou os 100 dias de mandato esta semana, tendo discursado no estado do Michigan, o republicano deu entrevista um town hall, na News Max para marcar a data dos cem dias de nova administração.
Para Ana Cavalieri, investigadora de politica americana no IEP da Universidade Católica, Trump está tentar produzir uma “mensagem mais positiva” do que aquilo que as sondagens apresentam sobre a sua liderança.
“Muitas pessoas do eleitorado de Trump não querem responder a estas sondagens, as quais já são negativas”. As mostras definidas davam uma aprovação de Trump, apesar de nunca darem mais de 50% para Trump, os números rondavam os 49%, mas agora a aprovação é negativa principalmente pela economia.
O que faz com que o novo mandato de Trump não esteja a ser considerado pelo seu eleitorado é “o descalabro nos mercados financeiros face à introdução e aplicação das políticas tarifárias.”
As medidas de nova administração Trump para aplicar tarifas de importação têm sido marcadas por falhas e adiamentos, confundindo parceiros comerciais, empresas e o mercado.
Mas os números de criação de emprego que saíram nesta passada sexta feira foram uma notícia positiva para Trump: muito acima das expectativas de analistas, provocou uma recuperação acentuada dos mercados financeiros, tendo recuperado as perdas do mês de Abril, após o chamado dia de libertação a 2 de Abril, quando Trump anunciou tarifas.
Em termos de inflação os números ainda não estão expressar uma má situação financeira no pais. “Os combustíveis estão baratos e a preços baixos, a inflação marginal está reduzida”, justifica Ana Cavalieri.
“Ontem houve a controversa de a Amazon querer diferenciar qual a parte do preço final que é devido a tarifas. Trump ligou ao Jeff Bezos, fundador da Amazon, empresa de e-commerce, para fazer pressão no sentido de não haver essa transparência, o que significa que a Administração norte-americana “está a tentar esconder o efeito negativo e inflacionário de determinados produtos que vêm do exterior por causa das tarifas.”
“Muitos americanos têm reformas, que dependem dos índices de valor das bolsas, neste momento estão muito assustados pelo que tem sido a receção negativa dos mercados. É uma altura muito caótica, cheia de incertezas. Ora se introduzem tarifas, ora se abrem exceções. Não se sabe se vai ter sucesso esta pressão negocial para conseguir melhores acordos comerciais com determinados países.”
Por outro lado, justifica a especialista em política americana, parece ser “uma resposta à ameaça ou pelo menos ao entendimento de que a China é o maior adversário geopolítico dos Estados Unidos do Ocidente, pelo que ter 90% das cadeias de abastecimento e produção de valor dependentes do adversário político, para além do facto de ter havido uma perda de força da capacidade industrial americana, em caso de um conflito com China os Estados Unidos não teriam capacidade para sustentar um esforço de guerra, por exemplo.
Várias preocupações geopolíticas
A maneira de a administração americana lidar com estas preocupações parece “caótica e à custa de um sofrimento a curto prazo da economia americana, que ainda é cedo para avaliar”, considera Cavalieri.
Os próximos meses vão ser decisivos quanto à estabilização de preços nos mercados.
A imigração é a pasta que “apresenta melhores resultados por parte da administração Trump”, do ponto de vista dos seus objetivos iniciais, segundo a investigadora.
A presença de imigrantes ilegais na fronteira do México diminuí em 98%, devido a uma “componente muito dissuasora das políticas americanas, que fazem com que os imigrantes não tentem atravessar a fronteira, ou imigrantes ilegais quase se auto-deportam para não serem apanhados e enviados para uma prisão de El Salvador”.
Ana Cavalieri explica que “a circunstância de existirem conflitos com casos de imigração em tribunais, faz com que “moderados se assustem com medidas que possam ser cruéis, relativamente a imigrantes ilegais. O eleitorado americano parece querer vê-los deportados, mas os moderados querem que haja garantias mínimas processuais e que não haja uma crueldade muito aparente.”
Internacional
A assinatura do acordo sobre terras raras e minerais entre os EUA e a Ucrânia foi um passo importante. Não é um acordo predatório nem abusivo: os recursos naturais ficam sob propriedade, controlo e domínio Ucraniano; os EUA contribuem com 50% do investimento, nomeadamente através de correspondente ajuda militar; nos primeiros 10 anos, o retorno do investimento é aplicado em projetos de reconstrução na Ucrania. Isto significa que os EUA vão ter um interesse material em proteger a Ucrânia, na medida em que interesses económicos, empresas e trabalhadores Americanos terão de ser protegidos de eventuais ataques. Isto foi um bom passo, que aproxima Trump da Ucrânia e o distancia de Putin.
Trump parece ainda não ter tido a “influência necessária para negociar com a Rússia, uma vez que não se conseguiu atingir qualquer acordo de cessar fogo”, admite a comentadora da SIC notícias.
Assegura que Trump fala em avançar com “sanções secundárias de países que compram gaz natural e combustíveis fósseis à Rússia , ao nível do sector bancário, o que era algo necessário” para travar a investida de Putin na guerra.
“Aquilo que era necessário no acordo para Kiev que quer ver garantias sérias de segurança de paz, ou qualquer tipo de armistício, Trump parece estar hesitante ao negar-se a fazer,” conclui a investigadora de política americana.