Das imagens do funeral do Papa Francisco, sem dúvida, há uma que ficará para a história: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, sentados frente a frente num canto da Basílica de São Pedro.
Khalid Jamal diz que “só a fina diplomacia do Vaticano permitiria o encontro entre os dois verdadeiros actores para essa cessação de hostilidades.”
Trata-se do primeiro encontro face a face entre os dois, que durou 15 minutos, após o desastroso ocorrido e transmitido mundialmente no Sala Oval da Casa Branca em fevereiro.
No encontro entre os dois líderes em Roma foi discutida a contra oferta da Ucrânia à proposta da Casa Branca de acabar com a guerra. Um plano que incluiria a implantação de um “contingente de segurança europeu” apoiado pelos EUA, sem mencionar a restituição total dos territórios ocupados pela Rússia, nem a adesão de Kiev à NATO, duas questões que Zelensky há muito declarou não negociáveis, segundo o New York Times.
“Há algo que é visível neste encontro”, diz Khalid Jamal, especialista em relações internacionais, ao Estado com Arte Magazine.

“A fina diplomacia do Vaticano, conhecida pelos seus múltiplos esforços para a paz, que consagrou a possibilidade de um frente a frente, sem máscaras nem artifícios, entre os dois verdadeiros actores para essa cessação de hostilidades,” Khalid Jamal reconhece a importância diplomática do Vaticano que tem sido crucial em várias guerras ao longo da história, recorde-se a intervenção do Papa João II na queda do muro de Berlim em 1989.
O Papa Francisco no seu último discurso proferido no domingo de Páscoa destacou vários conflitos espalhados pelo mundo, entre eles a guerra da Ucrânia, na sua tradicional mensagem de Páscoa, lida por um assistente. Ao lembrar da Páscoa — data que marca a ressurreição de Jesus Cristo — o Papa disse que “o amor triunfou sobre o ódio, a luz sobre as trevas e a verdade sobre a falsidade”.
“Oxalá a partida do Papa Francisco, e este encontro num local mágico e carregado de simbolismo como Roma possa ter efeito num almejado mundo melhor, “sublinha Jamal.
Ana Cavalieri, especialista em politica americana e investigadora do IEP da UCP diz ao Estado com Arte Magazine que Trump tem falado em avançar com “sanções secundárias a países que compram gaz natural e combustíveis fósseis à Rússia , ao nível do sector bancário”.
Mas para Kiev é necessário no acordo de paz “haver garantias sérias de segurança, ou qualquer tipo de armistício, o que Trump parece estar hesitante ou negar-se a fazer.”

“Há quem considere que Trump está a tentar impor um fosso entre China e Rússia, o inverso do que Nixon e Kissinger fizeram no passado, abrindo-se à China Comunista para tentar separar os dois. Mas a situação é completamente diferente dos anos 60 e 70. A estratégia parece mal pensada e mal executada”, revela Ana Cavalieri ao Estado com Arte Magazine.
Muitas outras breves reuniões bilaterais ocorreram no dia do funeral de Francisco. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, compartilhou uma foto de seu aperto de mão com Trump nas suas redes sociais. A chefe do executivo europeu e o presidente dos EUA — na breve conversa na Praça São Pedro — concordaram em encontrar-se novamente, frisou a porta-voz de Von der Leyen, Paula Pinho.
Sinais que parecem ser encorajadores com base no diálogo, tendo em conta o contexto atual marcado por impostos e tensões internacionais.