Maria João Tomás. Cessar-fogo para Putin ter o “seu desfile grandioso”

Marta Roque

Para Maria João Tomás, especialista em Médio Oriente, Putin quer “mostrar a glória da vitória sobre o nazismo de Hitler, e como a Rússia (União Soviética) teve protagonismo no final II Guerra Mundial. A Rússia anunciou ontem o início de um cessar-fogo temporário de três dias, coincidindo com o 80.º aniversário do Dia da Vitória.

Maria João Tomás, Professora no ISCTE-IUL e analista de Política Internacional na SIC Notícias, ao Estado com Arte Magazine, diz que o presidente russo teve um objetivo: quer que a Ucrânia pare de mandar drones para território russo, como fez há poucos dias para Moscovo, de forma a poder ter o “seu desfile grandioso. A Rússia tem sido muito mal tratada quanto ao seu papel na II Guerra Mundial.”

A especialista em Médio Oriente, Maria João Tomás, sustenta que Putin quer “mostrar a glória da vitória sobre o nazismo de Hitler, e como a Rússia (União Soviética) teve protagonismo na vitória na II Guerra Mundial. De alguma forma quer mostrar que está a combater o nazismo na Ucrânia, é o que diz Putin”, afirma a professora universitária.

Celebração do 80 º aniversário do Dia da Vitória ontem em Moscovo

Considera que “normalmente esquece-se a importância que a Rússia teve na vitória da II Guerra Mundial”. Putin quer reclamar este papel importante da história, aproveitando o momento de celebração da data para “impor as regras nestes 3 dias de cessar-fogo, mas quando são os outros a impor Putin não cumpre as regras”.

As regras de Putin no cessar-fogo com Ucrânia

O presidente russo tem interesse no cessar-fogo nesta altura, por um lado quer que a Ucrânia pare de mandar drones para território russo, como fez há poucos dias para Moscovo, para poder ter o seu “desfile grandioso”.

Sobre a influência direta de Trump no cessar fogo Maria João Tomás admite que “é possível que tenha influenciado Zelensky, e que por sua vez ao presidente ucraniano também lhe interessa os 3 dias de cessar fogo, mas pode não respeitar como a Rússia tem feito”, sustenta a docente.

O acordo das terras raras assinado esta quarta-feira

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, comemorou o acordo assinado com os Estados Unidos para a exploração das chamadas terras raras ucranianas em comunicado enviado na rede social Telegram, nesta quinta-feira.

A docente universitária diz que “foi providência divina, o Papa Francisco evitou meter-se muito na guerra da Ucrânia, ao contrário do que fez depois de morto. Doou o seu papa móvel para socorrer as crianças em Gaza. O Papa não se envolveu na guerra da Ucrânia por causa do Cisma do Oriente, o evento que consolidou a separação da Igreja cristã na Europa, em 1054, com a divisão em Igreja Católica, sediada em Roma, e Igreja Ortodoxa, , sediada em Constantinopla.

A analista de Médio Oriente justifica que Francisco não terá tomado posição na Ucrânia devido “às relações que o Vaticano mantinha com o patriarca Kirill”, o líder cristão ortodoxo fiel a Putin.

Mas de uma forma ou de outra as cerimónias fúnebres permitiram o encontro épico entre Trump e Zelensky, que até agora parece favorável a Zelensky. “Por uma razão simples, explica Maria João Tomás, primeiro porque as minas de exploração nas terras raras vão continuar no poder da Ucrânia, e segundo porque há um acordo a 10 anos para a exploração das terras, esta exploração não se faz de um dia para o outro, é preciso muito dinheiro; e em terceiro lugar fala-se na questão de Trump vender armamento por conta dos lucros da exploração dos minerais estratégicos.

A confirmar-se todo o acordo é uma “grande vitória” para Zelensky, adianta Maria João Tomás ao Estado com Arte Magazine, pelo menos desde 20 de janeiro até agora “parece que Trump acordou um bocadinho”.

No entender de Maria João Tomás o acordo das terras raras “é mais favorável a Zelensky,” no entanto pode vir a ser favorável para Estados Unidos daqui a 10 anos. “Mas nem com o 2º mandato de Trump vamos ver esses minerais estratégicos”, conclui Maria João Tomás.

Trump está a ser muito criticado porque passa muito pouco tempo na Casa Branca. Só vai à Casa Branca para assinar ordens executivas, mas o problema é que tem problemas com as questões judiciais e jurídicas. Passa mais tempo a jogar golfe.

Desde janeiro a administração Trump até agora só realizou 2 acordos estratégicos, decorreram esta semana com o Reino Unido e a Ucrânia.

Agricultores contra Trump

A Guerra comercial entre Trump e a China pode prejudicar agricultores dos EUA, a China compra principalmente produtos agrícolas dos EUA, incluindo soja, oleaginosas e grãos. As exportações de soja dos EUA para a China agora estão sujeitas a uma tarifa total de 135%.

Com a expectativa de aumento na produção, a soja brasileira deve atingir níveis recordes neste ano. A China pode aumentar as suas importações do Brasil e de outros países sul-americanos, como a Argentina, que atualmente é o terceiro maior produtor de soja do mundo, depois do Brasil e dos EUA.

Outro exemplo gráfico é a indústria automóvel: um carro que seja montado nos Estados Unidos tem que atravessar a fronteira cerca 5 vezes por causa das peças, há 6 peças que vêm do Canadá. Se continuar a guerra comercial de tarifas a indústria automóvel do aço e alumínio “vai parar”, defende Maria João Tomás.

Trump tinha o anseio de com a guerra comercial levar mais empresas para os Estados Unidos, mas a especialista assegura que isso “não se pode fazer de um dia para o outro”, esclarece que “Hitler fez a mesma coisa no dia da libertação: o dia em que aplicou as tarifas. Qualquer analogia não é pura coincidência.”

Seja Apoiante

O Estado com Arte Magazine é uma publicação on-line que vive do apoio dos seus leitores. Se gostou deste artigo dê o seu donativo aqui:

PT50 0035 0183 0005 6967 3007 2

Partilhar

Talvez goste de..

Apoie o Jornalismo Independente

Pelo rigor e verdade Jornalistica