Maria Inês Almeida: “Às vezes, a literatura faz isso, entende-nos antes de nós mesmos.”

Pedro Gaspar

A autora Inês Almeida do recente livro “O que fazemos com este amor?”, da Editora Singular (2025) foi apresentado na Feira do Livro em Lisboa, conta a história de um amor e de um caminho que poderia ter sido. Ou que ainda poderá ser.

Maria Inês Almeida, Jornalista com formação académica na Universidade Católica, trabalhou vários anos como jornalista, recebeu o Prémio Revelação do Clube de Jornalistas mas decidiu entrar no mundo dos livros infanto juvenis em 2009. Tem mais de 75 livros publicados (vários constam no Plano Nacional de Leitura) e alguns títulos noutros países. É mãe do José e da Maria Francisca e acredita que os livros podem mudar o Mundo.

O Estado com Arte Magazine esteve à conversa com a escritora na Feira do Livro à volta deste novo romance de young adult.

Como é a sua relação com a Maria e com o Érik?

A Maria e o Érik vivem comigo há muito tempo. Às vezes, parece que são mais reais do que algumas pessoas que conheço. Eles representam muitos de nós. Têm silêncios e dúvidas. Cresci com eles, no sentido mais literário e emocional da palavra.

Todas as personagens são parte da alma e do coração do escritor projetadas. É verdade? Qual dos dois é uma versão da Inês?

Esse é sempre o mistério. Mas os dois, juntos, representam perguntas que também me faço: sobre o que fazer com aquilo que sentimos, com o que perdemos, com o que deixámos por dizer.

Conquistar uma nova faixa etária de leitores é mais do que um luxo emocional?

É um privilégio. Mas mais do que isso: é um compromisso. É escrever sobre o Amor. Sobre a vida. Sobre emoções. Aqui não há o certo ou o errado. Há um caminho. É preciso cuidar das palavras, sem as simplificar. E confiar que os leitores sentem estas personagens com a mesma intensidade — ou até mais.

Verteste mais lágrimas ou soltaste mais risos ao escrever o livro?

As lágrimas vieram primeiro. Houve capítulos em que precisei de parar e respirar. Mas também existiram frases que me fizeram sorrir.

Qual foi a sua primeira emoção depois do livro ser publicado?

O espanto, esse sentimento bonito de ver algo que era só meu começar a ser de tantas outras pessoas que têm partilhado as suas emoções ao ler. Estou muito grata.

Como planeou esta bonita história?

Não planeei. Ou melhor: senti. Tinha imagens muito fortes, diálogos que se impunham, e fui tentando costurá-los com cuidado. O processo foi mais intuitivo do que técnico. Comigo é sempre assim. Fui escrevendo como quem tenta não esquecer o bonito e triste ao mesmo tempo.

Tem alguma rotina diária de escrita?

Escrever, para mim, é uma forma de escuta. E para ouvir bem é preciso desacelerar. Gosto de escrever durante a semana, de manhã. Mas claro que se alonga para a parte da tarde. Não combino nada com ninguém, almoços, cafés, quando estou a escrever. A não ser que seja depois das 17:00 ou ao fim-de-semana.

Capítulos curtos foi uma gestão emocional e cognitiva ou um ajuste de tempo para o leitor?

Quis que cada capítulo fosse quase como uma respiração. Também pensei nos leitores pois queria que cada página desse vontade de continuar, sem pressa mas com ritmo.

Agora, ao ler novamente a história, acrescentaria algo à narrativa?

Acho que cada livro é uma fotografia do tempo em que foi escrito e não se altera uma memória, guarda-se.

Qual foi o elogio de um jovem que tenha recebido depois de ler?

Já foram tantos e tão bonitos. “Este livro acalmou-me”, “Inspira-nos a amar sem perímetros”, “O amor por alguém coexiste sempre dentro de nós, mesmo que não em presença física”, “Eu que sou um cubo de gelo acabei o livro em lágrimas”, “Não consegui parar de ler”, “Tratas de temas tão profundos e duros e de maneira tão delicada leve e de uma poesia discreta e brilhante”. “Parece que estás a escrever sobre a minha vida”, “Senti que este livro me entendeu”.

E eu nunca tinha pensado que um livro podia entender alguém, mas “às vezes, a literatura faz isso, entende-nos antes de nós mesmos.”

Seja Apoiante

O Estado com Arte Magazine é uma publicação on-line que vive do apoio dos seus leitores. Se gostou deste artigo dê o seu donativo aqui:

PT50 0035 0183 0005 6967 3007 2

Partilhar

Talvez goste de..

Gaza

Nuno Lumbrales,
Advogado

Apoie o Jornalismo Independente

Pelo rigor e verdade Jornalistica