Este livro é uma das mais importantes obras sobre a história do nosso país. Publicado no ano 2020 pela Editora Alma dos Livros torna-se de leitura obrigatória, fundamental e incontornável para compreendermos a origem, o passado, o presente de Portugal e assim podermos concretizar a nossa missão e paixão num futuro mais radioso, mais genuíno, mais fulgurante e glorioso.
Acreditem em Portugal, porque Portugal está no mais fundo de cada um de vós e sem Portugal sereis menos do que sois.
A razão de Portugal, a razão de ser deste país antigo, encontra-se envolta na mais densa bruma. Tornou-se um mistério ou é um mistério? A emergência da nação lusíada, o seu destino inesperadamente fulgurante, o seu projecto áureo, a sua persistente resistência à adversidade, a sua longa e relutante decadência, os seus mitos de regeneração, as suas obras de génio, tudo é hoje interpretado casualmente, a partir de teorias da história opacas, diminutivas, reducionistas, que no fundo espelham o dominante espírito empedecido da nossa época positivista, materialista, utilitarista.
Portugal, Razão e Mistério é por uma parte a razão, razão teleológica, que guiou a inteligência portuguesa na aventura do seu ser e do seu estar no mundo, e por outra parte o mistério, subjacente ao seu destino glorioso e infeliz, universalista e contudo sempre problemático.
Ao abordar temas como a caracterização de um Portugal arquétipo, a Atlântida finalmente identificada com a civilização megalítica galaico-portuguesa ou as raízes templárias, cistercienses e joaninas do nosso país nos seus primeiros séculos, e, seguidamente, o que foi o projecto áureo de um Império do Espírito Santo, e depois os caminhos labirínticos para onde nos levou a saudade da Pátria prometida em termos cíclicos de mito, de decadência e de desejo regenerador, António Quadros procura mostrar-nos simultaneamente um Portugal profundo, um Portugal imaginário e também um Portugal ainda potencial, que depende menos de uma vontade política do que de um saber da sua essência ocultada e empecida.
«O Português quer viver, crescer e de um modo geral ser, mas afeiçoou-se a convicções negativistas, nomeadamente ao nível político e educativo, que o conduzem a um auto-envenenamento mental. É porque não acreditamos em nós próprios, no que somos e valemos, no nosso pensamento e na nossa cultura, que em vez de pensarmos a partir daí a renovação das nossas leis, das nossas instituições ou dos nossos sistemas, constantemente, em sucessivos remendos sobre remendos, nos limitamos a importar, a repetir, a copiar ou adaptar, ao mesmo tempo que nos autocriticamos sem medida e nos negamos.
Disse-o de uma forma lapidar Fernando Pessoa, num pequeno texto que por várias vezes temos citado: uma nação que habitualmente pensa mal de si mesma acabará por merecer o conceito de si que anteformou. Daí que, acrescentou, o primeiro passo para uma regeneração, económica ou outra, de Portugal, é criarmos um estado de espírito de confiança – mais, de certeza, nessa regeneração.
Vivemos hoje um período de menoridade e de adolescência regressiva em que, predominando o intelecto passivo, as pessoas se auto-satisfazem e auto-iludem com os lugares comuns ideológicos, com os discursos demagógicos e com as ideias convencionais de gerações que, para repudiarem um certo tipo histórico de nacionalismo, perderam a própria identidade e já não sabem quem são ou para que são, como portugueses.
Que aconteceu? (…) A crise do homem português, tem por causa única a perdição da confiança em si próprio. (…)
Por outro lado, devido ao cientismo e ao tecnicismo predominantes que o positivismo nos trouxe, sem acompanhamento de uma educação do intelecto para o desenvolvimento das faculdades superiores do homem, o nosso ensino público dirige-se à mentalidade pueril, não logrando a elevação do intelecto passivo e adolescente até ao intelecto activo e adulto, o que explica a facilidade com que o estudante cai nas mais quiméricas, utópicas ou demagógicas ideologias, com pouca ou nenhuma capacidade de eleição ou análise.
A desnacionalização da escola, expressa pelos seus programas, traduzidos, ou pouco mais do que traduzido, pela supressão das nossas expressões idiomáticas e pela decadência da língua pátria, completa este quadro de atrofiamento, no homem português, das qualidades de iniciativa, de invenção e independência mentais. (…)
Resta no entanto a esperança de que uma verdadeira hierarquia seja restabelecida e que um direito português e uma política portuguesa venham a erguer-se sobre os alicerces duma pedagogia portuguesa, por seu turno deduzida da filosofia portuguesa, isto é, da capacidade portuguesa de pensar com autonomia, com liberdade e com verdade, testemunhando pelo que somos, pensamos e queremos e reconduzindo esta caminhada, incerta e desnorteada de hoje, às linhas genuínas da nossa filosofia de povo essencialmente atlântico, ecuménico e portador de valores espirituais próprios.
Será ainda possível, quando chegámos ao que chegámos e quando o mundo moderno parece uma vasta empresa de igualização, de massificação e de destruição dos próprios princípios de identidade e da individuação?»
Estas passagens retiradas do livro, “Portugal, Razão e Mistério”, revelam um profundo conhecimento do autor sobre o nosso passado remoto, num tempo ainda sem tempo, numa época imaginária, de labirínticos caminhos que nos conduzem à certeza da existência dum continente de seu nome Atlântida, já referido por Platão em algumas das suas obras, mas que, na interpretação grandiosa e eloquente de António Quadros, tem o condão de elevar a nossa “alma portuguesa”, alimentando-a com esperança num resplandecer da nossa nação lusíada que, embora um pouco esbatida ou desamparada, tem na sua génese raízes que lhe permitem elevar-se, ser mais e maior, porque a razão de ser de Portugal, é antes de tudo uma razão teleológica, isto é, uma razão aberta para com o telos ou um fim que é a justificação última do seu desenvolvimento no tempo e no destino.
Este livro é uma das mais importantes obras sobre a história do nosso país. Publicado no ano 2020, torna-se de leitura obrigatória, fundamental e incontornável para compreendermos a origem, o passado, o presente de Portugal e assim podermos concretizar a nossa missão e paixão num futuro mais radioso, mais genuíno, mais fulgurante e glorioso.
Acreditemos em Fernando Pessoa, quando nos diz:
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce,
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal! ( Fernando Pessoa)


