Albert Cortina, advogado espanhol, autor do livro “Despertai! Transhumanismo e a Nova Ordem Mundial”, aborda esta nova ideologia totalitarista, englobando perspectivas filosóficas, científicas, técnicas e religiosas.
O inicio da ideologia transhumanista, remonta a Julian Huxley (1887-1975), biólogo britânico que, como director-geral da UNESCO em 1946 e membro fundador do World Wildlife Fund, queria estabelecer uma religião científica, secular, imanentista e global para instituições internacionais.
Esta religião secular proposta por Julian Huxley – irmão de Aldous Huxley, autor do romance Admirável Mundo Novo – baseava-se no humanismo científico, um “humanismo evolucionário” cuja primeira formulação foi desenvolvida naquela época e foi evoluindo de forma a poderem apresentar o transhumanismo como uma evolução e revelação do ser humano perante si próprio, considerando-se superior a ponto de se poder colocar no lugar de Deus.
Desde as suas origens a ideologia transhumanista é, na realidade, um misticismo científico de caráter utópico. Uma religião secular da mente entendida como a autêntica substância universal. Assim, também compreendemos como o transhumanismo defende a imanência divina na natureza, uma religião secular que pretende ser a nova religião global.
O perigo é que a digitalização universal, a modificação genética dos seres humanos e a conquista do espaço sideral sejam realizadas sob a liderança de um biopoder totalitário, não democrático, que não respeita os direitos humanos nem os princípios éticos fundamentais. Regula-se por postulados transhumanistas/pós-humanistas de dissolução e abolição da natureza humana, os quais geram maior desigualdade entre as diferentes “castas tecnológicas” da humanidade e que estabelecem uma Nova Ordem Mundial ciber totalitária, anulando a liberdade, a capacidade de decidir livremente, a dignidade da humanidade na sua dimensão transcendente e espiritual.
A missão científico-religiosa da crença no transhumanismo implica que os seres humanos serão capazes de transcender a sua condição humana para levar a sua consciência fragmentada em direção a uma autoconsciência cósmica universal.
«Hoje, o transhumanismo faz parte do que poderíamos chamar “modernidade líquida” e das “ideologias dissolvidas” da natureza humana, características da pós-modernidade e, especialmente, da hipermodernidade “gasosa”. Poderemos também enquadrar esta ideologia no contexto do pensamento “trans” (transhumanismo, transgénero, transespécie…) e da cultura emergente de aprimoramento humano e liberdade morfológica que promove o direito de projectar o próprio corpo de acordo com o próprio desejo».
«Libertando-se da condição humana, e libertando-se de Deus, o “homem novo” – isto é, o trans-humano – crê-se livre e elevado a um nível superior de existência. Logo, porém, aparece o caráter ilusório de sua libertação e exaltação. O novo ser humano não sabe que Aquele contra quem luta, que esquece e nega é, na realidade, o fundamento da sua grandeza, pois o ser humano não é o mesmo se não for pela iluminação da sua consciência que recebe como dom pela graça e pela íntima ligação da sua alma e espírito com o Criador».
Por exemplo, em relação à inteligência artificial forte ou geral, as posições mais radicais do transhumanismo aspiram a que a superinteligência mude a primazia do ser humano em favor da máquina, no quadro de uma esperança sobrenatural que rejeita toda transcendência, e na qual a salvação não se encontra na união com Deus, mas na hibridização com a máquina.
A cosmovisão cristã, centrada na fé na ressurreição, redescobre o mistério da pessoa e, sobretudo, coloca-nos diante do mistério de um Deus pessoal que é Amor. Em contraste com a imortalidade cibernética proposta pelo transumanismo, os cristãos acreditam que a história caminha para a restauração de todas as coisas, do cosmos e do nosso corpo, e para a recapitulação da criação em Cristo.
«Graças ao espírito – e não à mente hibridizada com a inteligência artificial – o homem possui algo extraordinário e singular: a ressurreição. Na ressurreição, Deus restaurará a vida incorruptível ao nosso corpo transformado, reunindo-o com a nossa alma. A Boa Nova ensina que devemos esperar a ressurreição não apenas como uma mera glorificação de nosso corpo, mas como uma forma plena de comunhão e identificação com Cristo, nosso Salvador e Redentor».
«Esta é a mensagem de esperança da Páscoa cristã diante das utopias da ideologia transhumanista/pós-humanista, cheia de orgulho e arrogância por parte do ser humano que, como nos tempos da Torre de Babel, quer alcançar o céu e, portanto, Deus, para se assemelhar a Ele e se tornar o Homo Deus que o pós-humanismo profetiza. No entanto, essa direcção é completamente errada e leva diretamente a um fracasso já anunciado».
Tudo aponta para o facto da sociedade ocidental estar pronta para receber a espiritualidade universal de que a globalização tecnológica necessita para construir a Nova Ordem Mundial. Esta agenda globalista lembra muito a implantação da religião científica, secular e global que Julian Huxley queria estabelecer para as instituições internacionais de seu tempo.
O discurso, a tática e a agenda foram desenhados há muito tempo e encaixam perfeitamente no contexto global actual. As elites globalistas que compõem a cibercracia da Nova Ordem Mundial estão satisfeitas com o aparente sucesso alcançado. No entanto, nem tudo está ainda consumado ou decidido…
Na concepção cristã há um Alfa e um Ômega e um Deus amoroso que guia a história da salvação. Na escatologia transumanista, a superinteligência artificial é quem deve direccionar os próximos passos da evolução para a pós-humanidade.
No entanto, afirma o autor, “creio sinceramente que estamos num tempo de graça especial e da acção efusiva da misericórdia divina. No meu livro Despertai!, quis transmitir em todos os momentos aquela esperança e paz interior que nos dá saber que o Espírito Santo nos inspira e nos guia sempre com o seu Amor”.