Atentado contra a Democracia

Alexandra Tavares de Moura, Ex deputada e secretária nacional das MS-ID (mulheres socialistas – igualdade e direitos)

O cartaz que vende a arrumação de livros ou de 78.500 euros (ao contrário da restante campanha) inspira-se no populismo. Inspira-se no que todas/os  comentam dizendo que a democracia está podre (mas que em nada participam na vida cívica). Inspira-se na lógica de que, como se vê escrito em muitos cartazes, é preciso “limpar Portugal”.

Recentemente, numa formação em inteligência emocional, participei num exercício em que cada um de nós tinha que identificar os cinco valores mais importantes para si. Usamos uma metodologia que não conhecia e que nos obriga (se fizermos o exercício com seriedade) a refletir sobre a nossa essência.

Somos quase 40. Ética só foi referido uma vez…

Isto a propósito da nova campanha do IKEA e sobre a qual ainda não vi nenhuma indignação, nenhuma manifestação de repulsa séria sobre esta campanha.

A campanha é eticamente questionável. E porquê?

O cartaz que vende a arrumação de livros ou de 78.500 euros (ao contrário da restante campanha) inspira-se no populismo. Inspira-se no que todas/os as/os comentam dizendo que a democracia está podre (mas que em nada participam na vida cívica). Inspira-se na lógica de que, como se vê escrito em muitos cartazes, é preciso “limpar Portugal”.

Inspira-se na vontade que a extrema direita tem de mostrar que chegámos a um estado em que só uma nova República pode higienizar Portugal. Inspira-se no argumento que alimenta a percepção de corrupção a que os partidos de direita se agarram para crescer, dizendo que contra este “estado de coisas” só um “iluminado”, sério, incorruptível, honesto pode salvar o país. Dom Ventura!

Será só a mim que me choca que uma marca que acarinhamos em Portugal e com um elevado volume de negócios no nosso país use um facto que abalou as instituições democráticas para promover a sua imagem ou que use este facto para descredibilizar, denegrir e destruir a democracia portuguesa?

Será que ninguém se choca com a afirmação da multinacional que garante não querer contribuir para a discussão partidária, mas sim olhar para o mundo com humor. Qual humor?

Sou só eu que estou chocada? Os partidos políticos, as associações cívicas e associações de profissionais, a sociedade civil nada fazem? Nada dizem?

Ninguém pergunta a quem é que serve esta campanha? Está ao serviço de quem? Será que a marca mãe não tem um código de ética e de conduta que se aplique em todos os países? Claro que tem! Temos que nos insurgir!

E mais! Não sendo eu jurista, não deixo de ter dúvidas sérias sobre a legalidade desta publicidade. Pois ofende a integridade das instituições democráticas consagradas na Constituição da República Portuguesa.

Vergonha! É a palavra mais simpática que me ocorre para classificar esta campanha que mais não faz do que destruir o que tão difícil foi de construir: a democracia portuguesa.

Tristeza. É o sentimento que tenho por percepcionar o receio que se instalou na sociedade portuguesa de combater sem medo a extrema direita.

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