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A Cultura Inculta 

Susana Mexia

Muitas universidades retiraram das bibliotecas ou dos programas curriculares os chamados “Grandes Livros”, obras literárias considerados pilares da fundação ocidental, os Clássicos da Literatura, desde as grandes epopeias a ensaios da Antiguidade Clássica, sem excluir obras emblemáticas do século XX.

Na opinião de Allan Bloom, a exclusão de tais obras limitou em larga escala os horizontes das novas gerações, a falta de conhecimentos dos estudantes minimizou o uso da razão, da criatividade, e revelou como a democracia ocidental acolheu inconscientemente ideias vulgarizadas de niilismo, desespero e de relativismo disfarçado de tolerância.

Este Ensaio sobre o declínio da cultura geral, de como a educação superior vem defraudando a democracia e empobrecendo os espíritos dos estudantes de hoje de Allan Bloom, é uma edição da Europa-América, de 2001.

O declínio da cultura geral e de como a educação superior defraudou a democracia e empobreceu os espíritos dos estudantes de hoje, foi altamente elogiado aquando do seu lançamento, por jornais como o The New York Times, a Time e o Washington Post e ainda está actualizado na medida em que reflete as necessidades culturais do mundo moderno.

Os estudantes aprendem desde crianças que os valores são relativos e que a tolerância é a primeira virtude, o que acaba por acontecer é, na verdade, o oposto: os jovens chegam à Universidade sem qualquer crença nas suas vidas. Mesmo que acreditem ter uma mente aberta, as suas mentes estão na verdade fechadas para o que realmente interessa.

Muitas Universidades retiraram das bibliotecas ou dos programas curriculares os chamados “Grandes Livros”, obras literárias considerados pilares da fundação ocidental, os Clássicos da Literatura, desde as grandes epopeias a ensaios da Antiguidade Clássica, sem excluir obras emblemáticas do século XX. Na opinião de Allan Bloom, a exclusão de tais obras limitou em larga escala os horizontes das novas gerações, a falta de conhecimentos dos estudantes minimizou o uso da razão, da criatividade, e revelou como a democracia ocidental acolheu inconscientemente ideias vulgarizadas de niilismo, desespero e de relativismo disfarçado de tolerância.

“A falha em ler bons livros tanto enfraquece a nossa visão como fortalece a nossa tendência mais fatal – a crença de que o aqui e agora é tudo o que existe”.

Consideram que aprender, Literatura, Musica, Artes e Filosofia, com a consequente discussão do que é o homem, a ética e os valores e o belo é pura perca de tempo, leva-os a confundir  o amor ao saber como felicidade do homem com a sua capacidade de adquirir bens materiais e de ter sucesso. É a exaltação do ter em vez do ser!

Assim se compreende que um governo desprovido de ética e valores tenha indiferença e até desprezo pela cultura, e pretenda privatizar um serviço público de Rádio e Televisão e até a Escola Pública, que constitucionalmente têm obrigação de manter e melhorar. Desta forma é quartado ao cidadão um abrangente conhecimento humanístico, os homens desaprendem a sua tarefa essencial de ser humanos e de entender os problemas fundamentais dos outros homens.

A Universidade hoje pode formar técnicos excelentes, mas rarissimamente forma homens. No fundo, o objectivo disfarçado dessa estratégia é tornar o cidadão ignorante, fazendo dele um terreno fértil para a aceitar de forma acrítica e dócil tudo o que os governos entendam e pretendem implementar como “educação” que os tranquilize e transforme em seres domesticados e inofensivos.

“Assim, o facto de não lerem bons livros tanto enfraquece a visão, como aumente a nossa tendência mais fatal – a crença de que o momento presente reflecte toda a existência”. (…)

“Em todo o caso, seja qual for a causa, os nossos estudantes perderam a prática da leitura e o gosto por ela. Não aprenderam a ler, nem têm a expectativa do deleite ou aperfeiçoamento proveniente da leitura”. (…)

“ No ponto em que as coisas estão, os estudantes têm poderosas imagens do que é um corpo perfeito e perseguem-no incessantemente. Mas privados de orientação literária, já não têm qualquer imagem do que é uma alma perfeita, e por isso não anseiam ter uma. Nem sequer imaginam que haja tal coisa”. (…)

A crise social e política do ocidente no final do século XX e neste, é essencialmente uma crise intelectual, defende o autor. “O que vemos hoje é gente nova que, sem uma compreensão do passado e uma visão do futuro, vive um presente empobrecido”. (…)

“ Mas enquanto eles tiverem os Walkmans nos ouvidos não podem ouvir o que a grande tradição tem a dizer. E, depois do seu uso prolongado, quando o tiram, verificam que estão surdos”.

Allan Bloom, Professor de História das Ideias na Universidade de Chicago e filósofo foi um excelente tradutor de Platão e Rousseau.

Um excelente aviso para todos nós, porque sabemos a carência de saber e saberes que circundam à nossa volta e também sabemos que não é uma estratégia inocente.

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