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ESTUDO REVELA QUE HORÁRIO DOS INTERROGATÓRIOS PODE INFLUENCIAR A PRECISÃO DOS TESTEMUNHOS

Estado com Arte Magazine

Um estudo da Universidade Portucalense Infante D. Henrique (UPT) em colaboração do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) concluiu que o horário dos interrogatórios pode influenciar significativamente a precisão das testemunhas oculares em investigações criminais, um avanço que, de acordo com os especialistas, poderá otimizar as práticas de investigação criminal e judiciária. As conclusões do trabalho podem otimizar práticas de investigação criminal e judiciária.

O trabalho intitulado “The Synchrony/Asynchrony Effect on Eyewitness Memory Performance” explorou como o cronótipo – a tendência natural do organismo para estar mais alerta e produtivo em determinados momentos do dia – afeta significativamente a memória de testemunhas oculares.

Publicado na prestigiada revista Journal of Forensic Psychology Research and Practice, o estudo intitulado “The Synchrony/Asynchrony Effect on Eyewitness Memory Performance” foi realizado no âmbito da dissertação de Mestrado em Medicina Legal (ICBAS – Porto) por Ana Carolina Oliveira, sob a orientação do Prof. Doutor Pedro F. S. Rodrigues da Universidade Portucalense Infante D. Henrique (Porto) e coorientação da Prof. Doutora Mariana Pinto da Costa (ICBAS – Porto).

“A literatura tem-se debruçado na potencialidade do efeito de sincronia entre o cronótipo e a hora para a realização de tarefas em determinados domínios cognitivos (atenção, funções executivas, memória). Deste modo, a sincronização de determinadas atividades com o relógio circadiano poderá, potencialmente, resultar num melhor desempenho e produtividade”, explica Pedro F. S. Rodrigues, Professor e Coordenador da Licenciatura em Psicologia da UPT e orientador desta investigação.

O docente considera que, no domínio da memória de testemunhas oculares, é crucial que haja uma otimização do desempenho da memória e, portanto, torna-se indispensável avaliar os diversos fatores que possam, de uma forma ou de outra, dificultar a recordação do evento testemunhado e, por conseguinte, colocar em causa o valor probatório do testemunho.

Durante o estudo, os participantes foram classificados em matutinos e vespertinos e realizaram tarefas de memória em sessões realizadas de manhã e ao final do dia: assistiram a vídeos de cenas de crime e neutras, relataram o que visualizaram (relato livre) e preencheram questionários sobre stress, ansiedade e depressão, de forma a avaliar variáveis que possam influenciar a memória.

“Os resultados mostraram que a sincronia entre o cronótipo do participante e o horário do interrogatório resultou num melhor desempenho da memória. Matutinos tiveram melhores resultados pela manhã, enquanto vespertinos se destacaram ao final do dia. Este efeito permaneceu consistente mesmo após considerarmos variáveis emocionais como stress e ansiedade”, revela Ana Carolina Oliveira, autora do estudo.

Pedro F. S. Rodrigues sublinha que este é um estudo pioneiro na análise da influência do cronótipo e do efeito de sincronia na memória de testemunhas oculares, combinando as áreas da Psicologia Forense e Cronobiologia.

“Embora existam alguns estudos internacionais sobre o efeito de sincronia/assincronia na identificação de criminosos, este estudo procurou perceber se esse efeito é verificado em interrogatórios que recorrem a relato livre, ou seja, quando se solicita às testemunhas que relatem tudo o que conseguem, pela ordem que entenderem e com o maior número de detalhes possível”, acrescenta Ana Carolina Oliveira.

“Os resultados obtidos podem ajudar a melhorar práticas de interrogatório e recolha de testemunhos, sugerindo que é importante considerar o cronótipo e o horário do dia para otimizar o desempenho da memória das testemunhas. Constitui-se assim como um ponto de partida para futuros estudos, evidenciando desde já dados muito promissores sobre a maximização do desempenho da memória de testemunhas oculares”, conclui Pedro F. S. Rodrigues, especialista em Psicologia Cognitiva..

A publicação deste trabalho de investigação contou também com a colaboração do Prof. Doutor Christoph Randler, especialista em ritmos biológicos da Universidade de Tuebingen, Alemanha.

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