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MARIA DO CÉU SALGUEIRO. “MONTEMOR-O-NOVO É A CAPITAL DA PECUÁRIA EXTENSIVA”. C/ PODCAST

Marta Roque

Maria do Céu Salgueiro, engenheira agrónoma, é a vice-presidente da direção da Associação de Produtores do Mundo Rural da Região de Montemor-O-Novo, Apormor, e Presidente do Conselho Consultivo das Mulheres Agricultoras no âmbito da CAP, Confederação dos Agricultores de Portugal.
Também como responsável do Conselho Consultivo das Mulheres Agricultoras defende a valorização do mundo rural com a gestão e participação ativa das mulheres nas suas variadíssimas tarefas. Já coordenou e levou grupos de mulheres a Bruxelas para sensibilizar os eurodeputados, participantes na Comissão de Agricultura, dos problemas que todas sentem nas suas explorações e defende que “o empoderamento feminino é marcante pela diferença que faz a nossa intuição”.

Ao Estado com Arte Magazine, Maria do Céu Salgueiro diz que a associação Apormor, dinamiza a economia regional, faz a diferença naquilo que é a pecuária extensiva e o negócio do dia-a-dia das explorações na região.”
A Apormor tem a sua atividade principal na gestão do Parque de Leilões onde, todas as semanas, às terças-feiras decorre o leilão de bovinos e uma vez por mês, numa quinta-feira, realiza o leilão de ovinos.
Esta atividade torna a Apormor o centro da pecuária extensiva, porque todos os dias o foco é apoiar a comercialização dos bovinos e dos ovinos com a necessidade de atrair mais sócios e mais oferta de bons animais que melhoram a qualidade e e quantidade do leilão.
“Nesta perspetiva, mais compradores nos procuram, presencialmente e on-line, procurando adquirir animais para os seus circuitos comerciais internos ou externos,” explica a dirigente.
O record de leilões de gado vivo foi atingido em Junho de 2023 com 1200 animais a leilão, Maria do Céu Salgueiro defende que “é de todo necessário relevar o papel dos colaboradores da Apormor, “estes 1200 animais entraram numa segunda-feira, foram leiloados na terça-feira e carregados na quarta-feira, seguindo o circuito normal de um processo de leilão. Assim, é importante realçar que foram movimentados 3600 animais em 3 dias. Parecendo um processo fluente só mesmo com a entrega, conhecimento e empenho dos colaboradores se realizam os leilões com a dimensão e a rotina semanal.”

A agricultora alentejana, pela atividade da Apormor, está no mercado da carne com a comercialização dos bovinos e ovinos apresentados nos leilões de gado vivo, mas também está no Conselho Consultivo das Mulheres Agricultoras no âmbito da CAP, a Confederação dos Agricultores de Portugal, onde procura valorizar o mundo rural com as atividades das mulheres nos mais diversos setores agrícolas de norte a sul do país.

No âmbito deste trabalho já coordenou e levou grupos de mulheres a Bruxelas para sensibilizar os eurodeputados, participantes na Comissão de Agricultura, dos problemas que todas sentem nas suas explorações e defende que “o empoderamento feminino é marcante pela diferença que faz a nossa intuição”.

Apormor, motor de desenvolvimento económico no Alentejo

 

Considera que a Apormor é “motor de desenvolvimento da economia da região pelo apoio continuo na comercialização dos animais e este enorme papel de apoio ao setor da pecuária extensiva tem, na realidade, obtido retorno nos últimos anos com o envolvimento de todas as associações de raça nos nossos eventos como a Feira de maio e a Expomor em setembro.”

Às terças-feiras após o fim do leilão e “assim que o apresentante entregar a fatura da venda dos seus animais, procuramos fazer de imediato a transferência. A confiança que depositam em nós foi ganha ao longo do tempo e, entre todos, o processo tem de ser o mais rápido e eficiente possível.”
No entanto, admite que ainda hoje há pessoas em Montemor que não se apercebem da dinâmica da associação de pecuária extensiva, algo que “temos conseguido transmitir às famílias das crianças, que entretanto temos envolvido nas iniciativas em parceria com as escolas e o clube de rugby.” As crianças passam o dia na Apormor entretidas em dinâmicas de grupo com perguntas sobre o mundo rural, observam os cães de raça Border Collie a orientar rebanhos de ovelhas, almoçam e andam a cavalo, tarefas que os deixam entusiasmados com a vida rural.

Parque de leilões da Apormor

 

O Parque de leilões da Apormor recebe atualmente cerca de 800 bovinos/semana e 2000 ovinos por mês. “Nos anos 90 os nossos antecessores tiveram a visão de que, atendendo à qualidade da pecuária extensiva na nossa região, era urgente apoiar a comercialização desses animais, assim nasceu a Apormor,” conta Maria do Céu Salgueiro.
Com um projeto de raíz foram idealizados 5 pavilhões com um sistema de mangas entre estes pavilhões e o recinto do leilão, facilitando e agilizando toda a movimentação dos animais. Ainda hoje, “o processo é fluente se pensarmos nas quantidades muito maiores e diferentes do inicio da associação.”
A associação “é o que é hoje pela forma visionária como os nossos antecessores pensaram o projeto Apormor”, esclarece a eng. agrónoma.
Uma vez por mês, a uma quinta-feira, fazem o leilão dos borregos,  uma espécie que necessitava urgentemente de apoio na comercialização, pois nessa época o negócio dos borregos estava na mão dos intermediários. Conseguiam comprar os borregos a olho nas explorações a 50/euros por cabeça. “Com a nossa intervenção nos leilões, os borregos começaram a ser vendidos ao kg e facilmente um borrego começou a valer 70/80 ou 90 euros, valor este que ficava todo na produção e não no intermediário!”

Em 2008, ano em que passou a fazer parte da direção, a dirigente afirmou que resolveram tomar duas decisões de gestão, por um lado “aumentámos as taxas de utilização valores pagos pelos apresentantes e pelos compradores e, por outro lado, com esta receita, conseguiu-se agilizar protocolos de apoio ao sócio, comparticipação de metade do saneamento obrigatório dos efetivos dos associados e subvenção na compra de reprodutores de genética no leilão de reprodutores, que já é o evento da Expomor”, explica a gestora agrícola.
A atual direção tem o seu foco no apoio aos sócios, pois assim conseguem-se mais animais a leilão e maior qualidade no produto obtido, o que tem sustentado o aumento gradual dos animais apresentados anualmente. Em 2023, a Apormor atingiu uma comercialização de cerca de 32000 bovinos e 21000 ovinos.

Expomor, feira anual de Montemor-o-Novo de 28 de agosto a 2 de setembro

 

“Na Expomor conseguimos fazer uma exposição pecuária representativa da qualidade da região fazendo justiça ao lema adotado pela Apormor quando afirmamos que “Montemor-o-Novo é a capital nacional da pecuária extensiva,” explica Maria do Céu.
Há animais premiados nos eventos na Apormor que depois ganham prémios na Europa, por exemplo animais da raça Abeerden-Angus mais recentemente.
Todos os agentes económicos que circulam no setor da pecuária extensiva “vêem a Expomor como um ponto de encontro” nos vários eventos que ocorrem: concursos organizados pelas várias associações de raça, quer bovinas quer ovinas, leilões, palestras.
Segundo a dirigente “este empenho das associações também é notório na qualidade dos juízes” que convidam a participar nos concursos. “Na Expomor, pela dignidade de todos os eventos que acontecem, procuramos colaborar com todos para que, entre todos, a Expomor mantenha e cumpra com a responsabilidade de ser o evento do setor a nível nacional.” Diz que há um crescendo da Expomor na visibilidade internacional.

Entregam troféus aos melhores produtores nos três primeiros lugares de cada prémio. O troféu consiste numa porcelana com os vários exemplares das várias raças pintados à mão da artista Inês Baptista.

A Direção da Apormor prepara agora a Expomor 2024 que vai decorrer no Parque de Leilões de 28 de agosto a 2 de setembro, sempre com o foco de continuar a cumprir o lema Montemor-o-Novo, a “capital nacional da pecuária extensiva”.

Uma mulher no mundo agrícola

 

A família de Maria de Céu Salgueiro está ligada à agricultura desde os seus bisavós, tendo o pai desenvolvido muito atividade agro pecuária na região de Montemor-o-Novo.
De “forma visionária e inovadora”, foi o percursor do regadio no Alentejo com a cultura do tomate nos anos 60. Por esta razão, a exploração no seu todo ficou com água em vários pontos para regar as áreas do tomate que apareciam aleatoriamente pelas parcelas.
“Aquando do seu súbito falecimento nos anos 80, eu com 22 anos e o meu irmão, oficial do exército, com 24 anos, decidimos juntamente com a nossa saudosa Mãe, continuar a atividade agro pecuária, sendo eu a presença diária na gestão da exploração,” diz Maria do Céu Salgueiro.
Na sua falta o Pai deixou terras próprias e arrendadas, pois já o avô de Maria do Céu Salgueiro tinha arrendado estas terras que hoje, por falta da Mãe há ano e meio, continuam na exploração gerida por si e pelo seu irmão.
Assim, assume que foi de forma muito tranquila, que foi aparecendo perante os colaboradores e perante todos quantos necessitava como parceiros no trabalho. Num mundo de homens, nunca sentiu qualquer atrito até porque “a minha forma de estar é tranquila, mas assertiva e procuro sempre o diálogo, pois na dúvida, procurava sempre perguntar para decidir melhor.”

Concluiu a licenciatura em Engenharia Agrónoma na Universidade de Évora o que lhe permitia estar perto da exploração. “Desde muito cedo era eu que respondia pela atividade da exploração e, por esse mesmo motivo, fui convidada para entrar nos corpos sociais da Apormor (Associação dos Produtores do Mundo Rural da região de Montemor o Novo) nos anos 90. Mais tarde, em 2008 passei do conselho fiscal para a Direção onde permaneço até à presente data, o que sempre agradeci pela confiança e companheirismo que senti nos colegas de Direção.

Na exploração agrícola da família deixaram a cultura do tomate. Com boas vedações para conter os animais, passaram a ter mais vacas de carne, ovelhas de carne e porcos alentejanos.

António Salgueiro, agricultor e pai de Maria do Céu Salgueiro, recebe prémio de melhor produtor na fábrica de tomate na região de Montemor-o-Novo

Toda a atividade desenvolve-se na produção de pastagens biodiversas semeadas para obter bons fenos e pastoreio direto, pois o objetivo é ter alimentação para auto-consumo. Trata-se de uma exploração em modo de produção biológico. Toda a produção é comercializada em circuito curto, bovinos e ovinos no leilão de animais vivos na Apormor e os suínos também são vendidos localmente.

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