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DE PAMPLONA COM AMOR

Susana Mexia, Professora de Filosofia

Pamplona, no norte de Espanha, cidade séria, pacífica, dedicada ao estudo e ao trabalho, todos os anos, entre o dia 6 e 14 de Julho, vibra e delira com as festas em honra de San Fermin, um santo natural da Cidade, padroeiro da Diocese e co-padroeiro de Navarra.

As “Sanferminas” – termo castelhano usado para as definir – começam no dia 6 de Julho ao meio-dia com um foguete lançado do Palácio da Câmara Municipal e só terminam às zero horas do dia 14 com a canção de despedida: “Pobre de mim”.

Ao longo destes 9 dias, Iruña, termo basco que significa Pamplona, desdobra-se em espectáculos musicais, em festejos e animações de rua, muita comida e bebida e, sobretudo, muita alegria, num delírio total, a que não falta todas as noites um excelente e fantástico fogo-de-artifício.

Milhares de espanhóis e estrangeiros vindos de todo o mundo ali afluem, para em comunhão de sentimentos saudarem e venerarem um santo que muito amam, numa tradição de que não ousam abdicar.

São famílias inteiras de todas as idades e condições sociais que ali convivem todos os anos, vestidos de branco, com um lenço vermelho ao pescoço e uma faixa vermelha na cintura, o que dá um ar fresco, colorido e muito pitoresco, quer sejam bebés de colo e fralda quer sejam avós, ninguém dispensa esta indumentária que se transforma na segunda pele de todos os que têm a felicidade de por ali passar, sorrir e divertirem-se.

Uma das actividades muito concorrida é o encierro, corrida de touros de 800 metros, às oito horas da manhã, que dura cerca de 3 a 4 minutos. Como bem sabemos, é o momento que as televisões mais gostam de explorar, pela falta de prudência por parte de alguns, que propiciam incidentes, não traduzindo contudo o ambiente envolvente.

A cultura milenar da península ibérica elegeu o touro como representante das forças da terra, sendo protagonista nas touradas. Esta tradição está fortemente enraizada nas Sanferminas, festas que prosseguiram durante centenas de anos, com feiras, procissões, teatros, danças e torneios, integrando todas as tradições religiosas tão características da Idade Média, da qual fazia parte uma forte devoção a San Fermin.

Nascido em Pamplona, San Fermin, alto funcionário da administração romana, converteu-se ao cristianismo numa época em que ainda não havia cristãos nesta cidade. Amante fervoroso da sua religião, foi nomeado Bispo aos 24 anos e porque não abdicou nem renegou a sua fé, aos 31 anos foi decapitado, motivo do uso do lenço vermelho ao pescoço.

Festa milenar que os tempos enriqueceram, festa única que vale a pena partilhar e viver, pois a realidade supera e ultrapassa toda e qualquer descrição.

Donde corren los Toros” é a expressão que o mundo usa para se referir a Pamplona, graças às célebres e coloridas festas de “San Fermin y los Encierros”.

Na verdade, poucas festas em Espanha, são tão universais e caóticas, tão imensas e ordenadas, aquilo a que os próprios pamploneses chamam um “caos organizado”. Durante uma semana, em Julho, a cidade torna-se o centro do mundo, alberga milhões de alegres turistas, extravasando uma contagiante e exuberante alegria em tons de branco e vermelho, com champanhe e muita sangria à mistura.

De bebés de colo até à “quarta idade”, passando por cadeiras de rodas ou outros aparelhos de ajuda à locomoção, ninguém falta nem arreda pé, todos dançam, cantam e convivem numa fraternidade impossível de descrever.

Faça frio, chuva ou calor, a cidade é invadida por casais com vários filhos, avós sorridentes, crianças que brincam, correm e convivem antes de recolherem a casa. É, sem dúvida, uma cidade onde o inverno demográfico não atacou, ali sente-se a força e a jovialidade da vida, da família e da alegria, não obstante, todos os problemas políticos e sociais que também têm, mas não se deixam invadir nem intoxicar com eles, o que reflecte bem a diferença entre “D. Quixote e Camões”…

Com uma excelente e original gastronomia “ir de pintxos”, é não só uma tradição como também uma sagrada devoção, um momento solene de convívio, partilha e oportunidade para apreciar e saborear os excelentes petiscos e vinhos da região.

Pamplona ou Iruña, tem uma forte personalidade de tradições e festas, de muito trabalho, estudo e investigação, onde a descrição, o bom senso e a educação ditam as normas, qual baluarte dos valores que resiste e se mantêm através dos tempos.

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