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Carreira internacional. A mudança de vida do branding corporate para a agro-pecuária

Marta Roque

Susana Sousa Prado, especialista em  Branding Corporate, esteve 17 anos na FIAT entre a Europa, Estados Unidos e China. Regressou há 6 anos para assumir o desafio de trabalhar numa empresa de agro-pecuária, em Vila Nova de Milfontes, Alentejo. Sente-se agora “muito realizada em pôr as mãos na massa” na empresa da família.

O percurso internacional de Susana Sousa Prado passou pela Suíça, Itália, Estados Unidos, Inglaterra e China. Sempre foi “muito focada na carreira, mesmo quando sentia que não valia a pena”, considera que não se deve  ter “medo de dar o salto para coisas novas”, diz em entrevista ao Estado com Arte Magazine.

Em terras do tio Sam viu que “existia outra realidade para além dos filmes”. No estado de Michigan, a cidade Detroit era uma cidade fantasma, viu como as pessoas vivam mal, encontrou uma cidade onde não havia segurança. “As pessoas não tinham possibilidades de viver para os standards americanos. O tipo de alimentação é muito inferior ao europeu.”

“Na Europa temos um back ground de história que os americanos não têm. Eles só se preocupam em ser os melhores e em ganhar mais.”

Na China “vivia numa bolha controlada”

No início da carreira o 1º trabalho internacional a que se candidatou foi para uma empresa na China, a 1a pergunta que lhe fizeram foi se tinha problemas psicológicos como depressão, porque era uma rapariga sozinha a candidatar-se para viver num país distante.

Mais tarde,  quando entrou na FIAT encontrou na China nas cidades de Changsha e Shanghai, uma realidade completamente oposta da americana, explica que os chineses “vivem só para ganhar dinheiro.” As ofertas de cinema na China era apenas Kung Fu ou filmes do Panda, para Susana “as pessoas estavam formatadas para viver de uma determinada maneira que era igual para todos, isso chocou-me bastante”. Os chineses não têm liberdade para dizerem o que pensam,  eram visíveis no dia-a-dia as várias formas requintadas de um estado comunista.

Era o pai que lhe ligava a contar as notícias, Susana “vivia numa bolha controlada.” “Quando o território de Hong Kong passou para o Estado Chinês a TV ia-se abaixo, sempre que havia notícias do antigo território português.” Batia na TV para ver se era falta de contacto eletrotécnico, até que percebeu que era o sinal do governo para não mostrar notícias de Hong Kong.

Apesar deste controlo estatal por parte do governo comunista, palpável na sociedade chinesa, Susana assume ter “gostado muito da experiência, porque se vamos para um país e não conhecemos a cultura, de que vale a pena? Perco uma oportunidade de conhecer esta cultura.”

Os colegas internacionais andavam todos juntos e só iam para restaurantes ocidentais. Achava que assim não vale a pena vir à China.

Saía com colegas chineses para conhecer a realidade: íam a restaurantes chineses e faziam karaoke. “Vi coisas que de outra maneira não veria. Temos tendência a dizer mal ou rir daqueles que são diferentes de nós, mas se convivermos com estas pessoas, começamos a entender que é o modo de encararem a viver a vida. Porque há muitas maneiras de se viver a vida.” Susana diz que sente “atração em conhecer esta variedade.”

Da China para o Reino Unido

A economista esteve 2 anos no Reino Unido, em terras de Sua majestade regressou à cultura ocidental, onde foi mais fácil integrar-se, dominava a língua e a nível cultural viveu o que não conseguiu viver na China. Quando voltou encontrou uma mentalidade mais fechada que lhe criou dificuldades.

O regresso por motivos familiares

A mãe morreu quando estava na China, enquanto o pai ficou doente com cancro. “Voltei a Portugal quando comecei a sentir um vazio dentro de mim: uma coisa é conhecer culturas novas, mas outra coisa é pensar: o que é que deixo para trás?

Tudo tem um custo, e o custo que aguentei algum tempo foi estar longe da família”. Apesar de ligar, e usar o skype, não era a mesma coisa. Alimentava a ideia de ficar mais tempo, mas com a doença do pai percebeu que já não podia continuar.

Foi aí que sentiu que tinha de voltar, os irmãos também precisavam da ajuda de Susana na quinta. “Voltar foi uma decisão difícil, foi muito emotiva nas suas palavras. Se tivesse de repetir tudo outra vez repetia. Na altura era sempre a única mulher expatriada, eu tinha de tratar de tudo, tinha de faltar ao trabalho. Assuntos que normalmente as mulheres dos funcionários estrangeiros tratam no país.”

Susana questionava-se: não há mais mulheres como na minha situação? Quanto a filhos nunca se proporcionou constituir família. “Gostava de ter liberdade para fazer o que quisesse, era como um oxigénio”. Com a doença do pai sentiu que já não podia fazer isso, agora tinha de dar prioridade a outras coisas.

A importância da vida familiar bilingue para a carreira internacional

Desde pequena que convive com duas culturas diferentes, a mãe de Hamburgo falava alemão, com o pai e os 4 irmãos falava em português, sentia por isso “abertura para conhecer pessoas de outras culturas”.

Quando entrou na universidade houve possibilidade de fazer Erasmus, foi para a Universidade de Hohenheim, localizada no campus, ao sul de Stuttgart, Alemanha. “Fui para a Alemanha, mas foi como se tivesse ído para um país diferente. No sul as pessoas eram diferentes das pessoas do norte.”

Estudante de Economia, a universidade alemã tinha ainda o curso de Agronomia, eram duas licenciaturas na mesma universidade, o que era diferente das universidades de agronomia em Portugal. Aqui teve contacto com os estudantes agrícolas. A Faculdade estava num Campus, o que lhe parecia uma combinação um pouco estranha: um palácio numa quinta.

Mantinha contactos com estudantes de toda a Europa, era uma realidade com culturas diferentes. Susana recorda que durante o tempo na universidade alemã ficou ainda mais sensível para a experiência internacional.

Do Branding corporate para a empresa familiar

Em 1974 houve nacionalizações das terras, com o início da reforma agrária deu-se a ocupação de terras com o apoio dos militares, 90% da propriedade do avó foi nacionalizada, o pai de Susana dedicou o seu tempo de vida a recuperar as terras, só tendo conseguido nos anos 90, com ajuda de pessoas da localidade em que vive no Alentejo. Também investiu numa plantação de milho.

Juntamente com dois irmãos, um veterinário e o outro engenheiro de eletrotecnia que estava da Holanda, iniciaram a empresa agrícola familiar em Vila Nova de Milfontes.

Considera que trouxe valor acrescentado na sua experiência internacional de empresa corporate, campanhas de marketing e publicidade, não existia comunicação da empresa.

O que a aliciou no trabalho da empresa da família foi poder fazer trabalhos diferentes, “quando somos bons numa área não nos dão oportunidade de fazer outros trabalhos”. Sente-se agora “muito realizada em pôr as mãos na massa na empresa familiar.”

Na pergunta inevitável afinal o que a motiva em Portugal Susana responde que “é o apoio à família, apesar de o país ter muitas limitações ao nível burocrático, mas no fundo a gestão do património e a família puxam por mim nesta fase de vida.”

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