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O dia-a-dia de uma jovem pet sitter

Pedro Gaspar

Mariana Raimond tem uma capacidade extra sensorial para lidar com animais de estimação. Não é à toa que tem essa vocação e profissão. Sem dúvidas. Aos 30 anos de idade, a pet sitter sente-se feliz e realizada com o seu trabalho.
Morou em três países diferentes e sente que deixou um bocado dela por lá, mas trouxe na bagagem todas as experiências vividas. Todos os sonhos ainda por realizar, todos os objetivos a alcançar. «Considero que as três nacionalidades estão intrínsecas em mim», enfatiza veementemente.
Alfacinha de nascença, mas não de gema, foi londrina desde os sete anos – na infância e na adolescência – e, mais tarde, já em adulta, brasileira. Viveu em Marau no Estado Rio Grande do Sul desde os 16 anos. Regressou a Portugal aos 22 anos.
Sempre ambicionou ser Veterinária, mas a vida tomou rumos muito diferentes do que esperava. Há três anos, decidiu juntar as paixões pelos animais e por fotografia, tirou um curso de cuidados animais e abriu páginas nas redes sociais para promover e divulgar o seu trabalho.

Encontrou finalmente a profissão com que se identificava: Pet Sitter e House Sitter – Cuidadora de animais de estimação.
«Cuidar dos bichinhos de estimação não é apenas um trabalho para mim, mas sim uma forma de nutrir o meu amor pelos animais e proporcionar-lhes o melhor cuidado possível, como se fossem membros da minha própria família. Algo que é imprescindível neste trabalho é a honestidade e a confiança. É uma virtude fundamental que felizmente, eu consigo transmitir para os meus clientes. Afinal, eu fico hospedada na casa das pessoas e sou responsável pelos bichinhos, pela casa, chaves, privacidade», revela a jovem Mariana.

É tudo sério na sua vida?

Não, nem tudo é sério! Como sou muito brincalhona com os bichinhos, gosto de rir, brincar e interagir muito com eles, e nesses momentos consigo oportunidades de os fotografar das mais diversas formas. Adoro divertir-me com eles! Além da fotografia, tenho duas grandes paixões: cinema e natação. Não há nada como a sensação de liberdade que sinto quando estou a nadar. Sempre gostei de água. Mares, piscinas, praias…E quando estou em terra firme, sou uma ávida apreciadora de cinema e séries, sempre em busca da próxima grande história para me cativar.

Como surgiu a sua paixão por animais?

Desde criança que convivo com os animais. A minha família paterna sempre teve cães e gatos. Somos todos amantes destes bichinhos de companhia. Aos 7 anos, descobri que adorava cães quando fomos viver para Santarém e tivemos uma casa com um quintal e um espaço enorme para ter cães. O meu pai criava Grand Danois e desde então nunca mais larguei os animais. Naquela altura, sempre dizia que queria ser veterinária. Brincava imenso com eles, ajudava na maternidade quando a Marta, a cadela, paria. Gostava tanto, que era eu quem dava os nomes e todos tinham “nomes de pessoas”. Marta, Eric, Maria e Rita.  

Acertou à primeira na sua vocação?  

Não. A minha vida foi sempre uma mudança constante. Emigrei para Londres ainda pequena e com 16 anos fui para o Brasil. No Brasil comecei a trabalhar num supermercado depois dos estudos, sem saber o que queria fazer, e aos 17 anos comecei a dar aulas de inglês numa escola multinacional. Até hoje dou aulas particulares de inglês, mas comecei esta ideia há três anos, quando me vi insatisfeita com a vida sem os bichinhos. Fiz um curso e inseri-me no mercado trabalho dos animais quando comecei a trabalhar numa loja enquanto fazia os pet sittings.

Como a vêem os seus clientes? 

Acredito ter algo diferente que me proporciona ter um relacionamento próximo com os meus clientes. Além de saber falar inglês, morei no Brasil e os meus clientes são na sua maioria norte-americanos e brasileiros, o que faz com que consiga criar uma boa ligação mais forte. Não sou uma empresa. Apesar de ser o meu trabalho, não gosto de tratar isto como um negócio e sim, algo que me dá prazer e ganhos financeiros. Ou seja, um dream job. E eu acho que os “clientes” (muitos deles já amigos) conseguem perceber isso através das conversas, através das fotos e dos vídeos que envio quando estou com os bichinhos. E mesmo os “clientes” não sendo estrangeiros, eu consigo criar uma amizade e ligação com a grande maioria. Algo que acho fascinante, é que sou muito bem tratada por todos quando fico hospedada nas casas dos tutores. Vê-se nitidamente o carinho que os meus “clientes” têm por mim.

O que gostaria de fazer mais pelos animais? 

Há duas coisas que tenho interesse em fazer mais para a frente. Gostaria de ampliar o que faço. Oferecer mais serviços, não parar no pet sitting. Tenho vontade de aprender muito mais e poder estar neste mercado de trabalho, a fazer o que amo.
Mas outra coisa que quero muito fazer é trabalho voluntário. Já tive uma ou outra experiência com trabalhos voluntários, mas quero dar uma continuidade e fazer disso um objetivo na minha vida. Algumas pessoas querem ter filhos, e eu…quero dedicar a minha vida a isto.

Qual foi a situação mais difícil com que lidou? 

Em termos de trabalho de pet sitting…  É um trabalho muito gratificante mas como sou trabalhadora independente, tem as suas desvantagens. Em 2022 fui parar às urgências enquanto estava a fazer dois pet sittings. Era uma apendicite aguda. Tive que ser operada na mesma madrugada. Fiquei um mês de baixa.
Nesse tempo, tinha pet sittings marcados. Uns donos de um gato, que estavam no Brasil e os donos de uma cadela que foram de férias aos Estados Unidos. Fiquei preocupada com o que iria fazer, mas uma amiga na altura ofereceu-se prontamente para ajudar-me. Contactei os donos, tranquilizei-os e correu tudo muito bem. Imagino que seja um susto para os donos uma situação destas e desconfortável.
Felizmente, eles confiaram no meu trabalho e na minha amiga. Mas como trabalhadora independente, há certas situações que são muito difíceis por falta de apoio. Temos que criar a nossa própria força e rede de contactos, e termos um plano B, C e D para tudo, caso o plano A não der certo! É uma grande logística!

O que lhe fez sorrir mais? E o que lhe fez cair lágrimas? 

O que me faz sorrir mais neste trabalho é criar uma conexão especial com os animais. É extremamente gratificante ganhar o carinho de um animal, especialmente por que todos eles têm personalidades diferentes. É como se cada um fizesse uma impressão das patas no meu coração.
O que me fez mais chorar, foi uma situação recente. Em dezembro de 2023, uns dias antes do Natal, uma das gatas mais dóceis que cuidei, faleceu devido a velhice e vários problemas de saúde. Era a Maria. Uma gata tão querida, tão pequenina e magrinha, mas tão dócil, tão gentil, carinhosa e companheira. Quase que compartilhei aquela dor com a dona dela, apesar de não ser igual, claro. Mas senti muito aquela perda. Quando volto lá para fazer pet sittings aos irmãos da Maria, sinto um vazio. A Maria dormia todas as noites comigo., seguia-me pela casa, vinha quando eu a chamava. Uma gata especial, de fato. E aí, eu percebi que este tipo de situações serão recorrentes neste tipo de trabalho. Vou lidar com várias perdas ao longo da vida. É a natureza.

Tem um animal favorito? 

Felinos. Qualquer felino…Gatos, leopardos, jaguares, tigres, leões…mas adoro panteras e chitas. Daí também adorar gatos pretos e laranjas. São umas mini panteras e chitas! Os felinos são animais incríveis. São belos, poderosos, misteriosos, inteligentes e independentes. E falando só no nosso felino domesticado, não há nada que me faça rir tanto como os gatos. Trazem-me felicidade, gargalhadas e são simplesmente fofos. E extramente incompreendidos por muita gente. Quando alguém me diz que não gosta de gatos, é por nunca teve um.

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