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O REGRESSO DA ESTRATÉGIA MUNDIAL DA CULTURA DA MORTE

Susana Mexia, Professora de Filosofia

A dignidade é uma característica inerente ao ser humano, sendo inata, ontologicamente anterior e superior, ultrapassando-o, porém, é em sua consequência, que é reconhecida ao Homem uma dimensão que o coloca acima de outras realidades, lhe dá a primazia de ser uma Pessoa e o distingue dos outros seres vivos.

Margaret Sanger (1883-1966), norte-americana de pais irlandeses, foi a precursora do movimento a favor do controle de natalidade. Filha de um livre-pensador que pertencia à “Escola Eugénica”, Margaret começou cedo a dedicar-se a esta causa. Da amizade com Havelock Ellis, sexólogo partidário da eugenia, consolida a sua posição favorável a esta corrente de pensamento, cujo nome fora imposto por Francis Galton”.

Em 1916, Margaret Sanger abriu a sua primeira clínica para o controle de natalidade, (ABORTO), com slogans como “Os seres sãos devem procurar procriar abundantemente e os ineptos devem abster-se… este é o principal objetivo do controle da natalidade” e “o controle dos nascimentos facilitará a criação de uma raça superior”. Em 1921 fundou a Liga Norte-americana para o Controle da Natalidade, mais conhecida como Birth Control.

Esta mente eugénica desenvolveu-se impondo a “cultura de morte”, uma estratégia política mundial sob forma de controlo do crescimento da população, mas cujo objectivo era criar uma nova ordem social a partir da desconstrução da cultura cristã, alterando os conceitos de dignidade da vida, de estrutura familiar, de complementaridade sexual e fomentando um novo modelo de ser humano.

Fruto de doutrinas sociológicas desconstrutivas, económicas e políticas, o conceito de dignidade da vida tem vindo a ser medido pelo valor da eficácia e da utilidade, por conseguinte, nos momentos mais vulneráveis da existência, como o nascimento e a morte, a devida protecção é substituída por um alegado novo direito de liberdade individual, no qual o individuo se considera com poder para eliminar o outro, o mais frágil e carenciado de protecção e apoio.

A dignidade é uma característica inerente ao ser humano, sendo inata, ontologicamente anterior e superior, ultrapassando-o, porém, é em sua consequência, que é reconhecida ao Homem uma dimensão que o coloca acima de outras realidades, lhe dá a primazia de ser uma Pessoa e o distingue dos outros seres vivos.

Décadas volvidas em que foram estrategicamente elaborados e concretizados os maiores atentados à vida e dignidade do ser humano, um pouco por todo o mundo, por questões políticas, religiosas, ateias ou demográficas, não podemos ignorar como alguns conceitos foram transformados ou deturpados para fazer sentido uma ausência de bom senso, equilíbrio ou a desonestidade de implementar uma pseudo dignidade, distorcida, forjada, manipulada e perigosamente sedutora.

Quando nos Parlamentos é discutida a vida humana, o seu princípio e o seu fim, os custos que acarretam, os encargos a que obrigam, torna-se premente pensar e agir sobre qual o futuro da humanidade, dentro destes contextos políticos, económicos e sociais.

O valor do Homem não lhe é dado pelos outros homens, não é uma mera questão de quantidade ou qualidade e não pode, nem deve ficar pendente de opiniões relativistas, subjectivas ou partidárias.
O ser humano é um valor em si próprio, não é um meio, mas um fim, tem um valor que lhe é inerente, devido ao facto único de ser membro da família humana e ter uma natureza racional. A dignidade está contida no conjunto de valores que caracterizam a humanidade e nos impede de usar o outro homem como uma coisa, objecto ou instrumento para atingir os nossos objectivos.

Desde que as democracias modernas não reconhecem a diferença essencial entre os Direitos Humanos e a legislação positiva, estão instaladas as condições para um estado totalitário que não reconhece a existência de direitos anteriores e superiores à sua autoridade, ao seu poder absoluto. Nestas circunstâncias o chamado estado laico assume-se como um deus que tem o poder de decidir sobre a vida e a morte da humanidade, fomentando uma mentalidade mortífera e desconstrutiva da vida e uma cultura de genocídio a nível mundial.

É toda uma civilização que está em risco, em nome da liberdade temos políticas que oferecem a morte, a separação da família e a destruição dos mais frágeis quer no início, quer no fim da vida.

Insistindo na legalização da eutanásia, quando a medicina de todo o mundo se opõe com recursos éticos de dignidade profissional, alegando ainda a necessidade imperiosa de cuidados médicos para os casos mais difíceis parece-nos ser de todo premente tomarmos consciência desta realidade. Hoje, aqui e agora, cumpre-nos defender a vida na íntegra, sem o recurso a falsos conceitos ou argumentos tergiversados, recorrendo a meios de manipulação da sociedade, nomeadamente através dos media, preparados para apoiar e passar a mensagem desta ideologia de destruição.

Desvirtuada a diferença entre o bem e o mal, negada a dignidade ao Homem e ignorando e existência de um Ser Superior, instala-se uma engenharia social demente e degenerativa, um Socialismo Ideológico Radical rumo a uma Nova Ordem Mundial.

Recordemos que em Fevereiro do ano 2020, o Professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Paulo Otero, lançou no Auditório da Ordem dos Médicos de Lisboa, o seu livro “Eutanásia, Constituição e Deontologia Médica”, no qual colocou as seguintes questões: Será a eutanásia conforme à Constituição?; Pode o poder legislativo impor alterações ao código deontológico de uma Ordem profissional, ou esse é um reduto constitucional da própria profissão, no qual não pode haver interferência? ; No conflito de valores que opõe liberdade a inviolabilidade da vida, qual deve prevalecer?

“O acto médico na sua integridade é de tal forma magnânimo que não pode ser levianamente abordado com conceitos de pragmatismos mediáticos, económicos ou políticos”.
Num auditório repleto, numa riquíssima troca de pareceres, creio que todos ficaram bem elucidados, se é que ainda restavam algumas dúvidas sobre o tema em questão. Reiterou-se então que o país estava sem cuidados de saúde com dignidade, não investiu em tratamentos Paliativos, nem fez o menor esforço para corrigir as muitas carências existentes neste âmbito, mas a toda a pressa insistia em legalizar a morte dos pacientes. Ficou bem claro que os «médicos estão comprometidos com a vida dos seus pacientes e não podem ser transformados em carrascos».

A leitura desta obra, que não sendo muito longa, tem a particularidade de estar escrita duma forma clara e inteligível permitindo uma leitura fluente e esclarecedora, é sem dúvida a forma mais segura de nos inteirarmos da crueza ou devaneio da insistência em querer legalizar a eutanásia.

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