Chegar à conclusão de que as diferenças entre o PS e o PSD são irrelevantes ou mesmo inexistentes, seja do ponto de vista ideológico, programático, governativo, ou mesmo no comportamento político, já não é um exercício de análise complicada. Há muito tempo que não encontro diferença que os distinga. Quando pensamos que ao mudar o governo, alguma coisa vai ser diferente, é uma ilusão, veja-se o atual governo da AD.
Depois de dirigentes de ambos os partidos se terem degladiado na praça pública, num espetáculo vergonhoso e deprimente, na discussão sobre o Orçamento de Estado, tal e qual como se tratam as questiúnculas políticas de somenos importância, eis que finalmente o PS veio assumir o óbvio, ou seja, a abstenção e a consequente aprovação do Orçamento.
Não pelas razões identificadas pelo líder socialista, porque os motivos por ele invocados já eram conhecidos em Julho quando o regabofe discursivo começou entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, quais irresponsáveis com evidente falta de conteúdo e dimensão intelectual e cultural para ocuparem os lugares que ocupam, de primeiro ministro e líder do maior partido da oposição.
A imagem que me ocorre, que mais se assemelha ao que assistimos, é a daquele menino da escola primária (no meu tempo era assim que se chamava), que no recreio se zangou com o colega e vai a correr fazer queixinhas, “sô psôra aquele menino deitou-me a língua de fora”, não se encontra em qualquer deles a maturidade e o estatuto para ocuparem os lugares que ocupam e o problema é que cada vez mais temos o país entregue a rapaziada, que além dos estágios nas respetivas “jotas”, pouco mais sabem da vida, que não lhes permitiu o crescimento necessário ao desempenho das funções. Consultar os CVs de ambos, é o suficiente para constatar que a vida nunca existiu para além dos corredores e dos cargos da política, de que são “profissionais” desde que cresceram e se fizeram gente.
Entre acusações recíprocas de falta de confiança, essa foi de facto a grande verdade reconhecida a ambos, porque eles não são mesmo gente em quem se confie. O governo, porque apresenta um orçamento que ludibria o seu eleitorado, indo ao encontro do programa do PS e pouco ou nada tem que ver com o que seria de esperar de um orçamento, não apenas do PSD, mas também do CDS, em que as cedências ao cardápio ideológico dos socialistas foi total e absoluto e essa é a verdadeira razão porque o PS se viu obrigado a deixar passar o documento, tudo o que queriam está lá, a AD cedeu em toda a linha e os socialistas não tinham outra solução.
Como o PS sempre fez, agora também se faz, a despesa sempre a aumentar e os impostos a acompanhar, e nem há outra formula enquanto não houver gente responsável que perceba que a despesa do Estado tem que reduzir drasticamente. Note-se que no único ponto em que a AD dava um sinal de entender que a dinâmica económica é que gera os recursos para pagar todas as despesas do Estado, até na proposta de redução gradual do IRC, como pequeno sinal de incentivo ao investimento, o governo foi ao encontro do PS, alterando radicalmente a proposta, adotando também a AD a filosofia do ódio a empresas e empresários. Não há paciência para tanta irresponsabilidade.
Mas não foi só agora no orçamento que o governo se aproximou do PS, não. Desde que chegou ao governo, há escassos sete meses, a AD tem feito da sua governação um vaivém de acordos e cedências a todas as classes profissionais da administração pública, que traziam do tempo do anterior governo socialista um “não” às suas reivindicações, ou seja, conseguiram neste aumento irresponsável da despesa pública, de cerca de sete mil milhões de euros, ultrapassar o PS pela esquerda e nunca nos esqueçamos que a um aumento de despesa, virá sempre a acompanhar a respetiva fatura em aumentos de impostos, aliás o orçamento não engana, sejam eles de forma declarada ou disfarçada, se já pagávamos a campanha eleitoral socialista, pagamos agora também a da AD. A um irresponsável, segue-se outro.
Mas também na criação dos chamados “grupos de trabalho”, ou de “comissões”, o governo entrou em rota de ultrapassagem ao PS, com a criação de várias “coisas” dessas e esses grupos de trabalho ou essas comissões servem precisamente para satisfazer a clientela interna dos partidos do governo, criando empregos pagos pelo erário público, ou seja, por todos nós. Isto significa mais despesa, claro e consequentemente mais impostos.
E assim, com os aumentos da função pública, satisfez-se a habitual clientela eleitoral do PS, como forma de a tentar resgatar e com a criação destes organismos na esfera do estado, satisfaz-se a clientela partidária, há eternos nove anos à espera de um lugarzinho ao sol.
Mas como não há duas sem três, percebe-se agora no orçamento que as tão famosas “cativações”, inventadas pelos socialistas, também foram usadas como método de arranjo orçamental pelo atual governo, que copia, mas copia em dobro.
Em suma, não nos iludamos, não há diferenças ideológicas nem governativas entre o PS e a AD, não são só farinha do mesmo saco, como a escola da ignorância e do deboche orçamental é a mesma.
Aí está um orçamento socialista, com um eleitorado ludibriado.
Que Deus nos ajude, porque cá na nesta terra não há gente não nos possa valer.