Segundo os relatórios de monitorização do PRR, dos 3.200 milhões de euros aprovados com destino à “Habitação”, apenas foram pagos 680 milhões, cerca de 20%, sabendo-se que os que não estiverem prontos até Junho de 2026 perdem automaticamente o financiamento e lá se perde mais uma oportunidade.
O tema da “habitação” constitui um dos maiores motivos de debate político atualmente em Portugal. Os jovens não têm possibilidade de adquirir ou arrendar a sua habitação e ela é um elemento fundamental para a independência, para a constituição da própria família e para as suas vidas, porque os preços da construção atingiram valores de facto proibitivos face aos rendimentos que auferem no mercado de trabalho, por um lado, mas também porque os bancos cada vez mais se limitam a dificultar o crédito, tornando-o também inacessível à esmagadora maioria desses jovens.
Entretanto vão-se vulgarizando, seja ao nível governamental ou das autarquias, as promessas de construção de muitos milhares de “fogos” destinados às chamadas “famílias mais desfavorecidas”, dizem esses anúncios, normalmente financiados pelo famoso PRR, que segundo os relatórios de monitorização, dos 3.200 milhões de euros aprovados com destino à “Habitação”, apenas foram pagos 680 milhões, cerca de 20%, sabendo-se que os que não estiverem prontos até Junho de 2026, perdem automaticamente o financiamento e lá se perde mais uma oportunidade, motivada pela habitual e já característica incompetência portuguesa na gestão da coisa pública.
Os nossos governantes e gestores públicos, são assim mesmo, na sua grande maioria, incapacitados para o exercício das funções que lhes são confiadas. E se ficarmos atentos aos anúncios do governo e das autarquias, em muitos casos basta fazermos uma simples conta de dividir, entre os valores de investimento anunciado e o número de casas prometidas, para percebermos o embuste do anúncio, porque os preços são claramente abaixo da realidade e como prova desse desfasamento face ao mercado, basta ver que muitos dos concursos públicos ficam, aquilo a que tecnicamente se chama “desertos”, ou seja sem empresas interessadas em concorrer. Obviamente.
Os preços da construção não só não irão baixar, como continuarão a subir e será que o mercado aguenta? perguntam, ai aguenta aguenta, porque não tem volta a dar, ou senão vejamos. O custo da construção engloba várias componentes, o preço dos materiais, que na globalidade não irá reduzir, seja pelas contingências do mercado, seja ao abrigo das desculpas das condicionantes internacionais, as guerras, etc…, que constituem sempre um argumento justificativo para aumentarem.
A mão-de-obra continuará obviamente a subir, desde logo pela natural melhoria dos salários e bem, mas também pela escassez de especialistas nas diversas áreas da construção. Em ambos os casos, os materiais e a mão de obra, não se compadecem com o facto da obra se destinar ao público ou ao privado e como tal nada há a fazer relativamente aos preços.
Há depois uma componente em que o Estado pode intervir de facto, que são os impostos, mas desiludam-se, porque nenhum governo os irá reduzir, ao contrário do que anunciam todos os dias, porque é com eles que se pagam todos os devaneios da nossa desgovernação, ou por acaso já alguém os ouviu falar em reduzir as despesas do Estado? Não, pois não? Por último e não menos importante, temos o lucro das empresas, essa “coisa” que a esquerda odeia e nunca irá perceber que sem empresas lucrativas não há reinvestimento e sem reinvestimento a economia estagna. Mas não tenhamos ilusões, porque eles nunca irão perceber o óbvio.
O preço dos terrenos é uma componente indireta do custo global da construção, com uma influência de cerca de 10% do valor final e alguém acredita que o preço dos terrenos irá baixar, num país em que não é possível construir em cerca de 90% do território, porque supostamente é RAN, ou REN, ou floresta, ou tem uma qualquer outra classificação impeditiva? Não só não irá, como ninguém vai alterar este estado de coisas, porque a ideologia estupidamente restritiva prevalece neste país de economia eternamente estagnada.
Como forma de ajuda à solução do problema, há o uso de edifícios devolutos propriedade do estado ou das autarquias, reabilitando-os para habitação, mas é preciso entender que o custo / voto da habitação é caríssimo face ao custo / voto da obra pública e isso não é opção para a grande maioria dos nossos autarcas. Em concreto, investir um determinado montante em habitação, satisfaz os desejos e as necessidades diretas de um número reduzido de eleitores, já o mesmo montante aplicado em obra pública, satisfaz muitos mais, satisfação essa que se traduz em muitos mais votos. Não é eleitoralmente interessante o investimento em habitação, sejamos pragmáticos.
Restam duas formas de reduzir o preço da habitação, a opção por materiais mais baratos e consequentemente de menor garantia, colocando em causa a qualidade, o conforto e a salubridade da habitação, uma solução obviamente indesejável, ou aquela que a esquerda sempre defende, o “roubo” por legislação, aos “ricos”, para dar aos pobres, é isto que se tem feito sistematicamente, com o congelamento das rendas, os constantes constrangimentos ao funcionamento do mercado livre, causando as frustrações de investidores, que em muitos casos usaram as poupanças de uma vida de trabalho para um investimento, vindo a ser apelidados pelos esquerdistas de especuladores. Mas eles não percebem que essa nunca será a solução, até porque está em prática há dezenas de anos e nunca resolveu coisa nenhuma, só agravou, mas eles nunca irão perceber.
Descupem a frieza e o pragmatismo, mas o probema da habitação não tem solução à vista…, pois não.