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CENTENÁRIO DO MANIFESTO SURREALISTA

Susana Mexia

Neste ano de 2024, celebra-se o centenário de publicação do primeiro Manifesto do Surrealismo, assinado por André Breton, escritor francês. Documento que propunha a restauração dos sentimentos humanos e do instinto como ponto inicial para uma nova linguagem artística.

O Museu da Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, é o Centro Português do Surrealismo, com uma exposição permanente sobre este movimento artístico e literário. Com um espaço dedicado a Mário Cesariny, e várias salas dedicadas a Cruzeiro Seixas, Fernando Lemos e António Carneiro entre outros.

O Surrealismo foi uma das vanguardas artísticas que surgiram no início do século XX, em Paris, França, no período entre as duas guerras (1918-1939) – a época de “os anos loucos”. Pairando uma incerteza muito grande sobre a reposição da paz nesse período de insatisfações, desequilíbrios e contradições impunha-se o desejo de “viver intensa e somente o presente”.

Este movimento artístico era caracterizado pela imersão no mundo irreal, deixando de lado o real, para os surrealistas, a emoção mais profunda de cada ser deve expressar-se com todas as possibilidades quando ela está próxima do fantástico, isto é, quando a razão humana perde o controle.

Numa das passagens deste documento, o poeta francês André Breton exalta a palavra “liberdade”, afirmando que ela “[…] se relaciona, sem dúvida, com a minha única aspiração legítima. Entre tantos infortúnios por nós herdados, deve-se admitir que a maior liberdade de espírito nos foi concedida. Devemos cuidar de não fazer mau uso dela. Reduzir a imaginação à servidão, fosse mesmo o caso de ganhar o que vulgarmente se chama a felicidade, é rejeitar o que haja, no fundo de si, de suprema justiça. Só a imaginação me dá contas do que pode ser, e é bastante para suspender por um instante a interdição terrível”.

As celebrações dos 100 anos de Mário Cesariny contam ainda com exposições no MAAT, no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso e no Centro de Arte Contemporânea de Coimbra.

O Surrealismo propunha a valorização da loucura, da fantasia e da utilização da reação automática, ou seja, expressar-se de forma que a mente não tenha qualquer tipo de controle, tanto por meios abstratos como figuras simbólicas.

O artista surrealista deixava-se levar pela arte, sem se preocupar com a lógica, registando tudo o que surgisse na sua mente, recorrendo a alguns métodos da psicanálise de Sigmund Freud: usar o potencial do subconsciente, fazer uma análise dos sonhos e da livre associação de ideias.

É importante mencionar que o Surrealismo não se restringiu apenas às artes plásticas – ele conseguiu gerar influência em outros ramos artísticos, tais como a escultura, a literatura, o teatro e o cinema. As teorias psicanalíticas de Sigmund Freud e as teorias políticas de Marx tiveram forte influência neste movimento.

Alguns dos artistas que se destacaram nesse período foram os pintores Salvador Dalí, Renée Magritte, Max Ernst, Giorgio de Chirico, Joan Miró e o cineasta espanhol Luis Buñuel, entre outros.

Na União Soviética como noutros regimes totalitários não havia espaço para que as correntes artísticas independentes se pudessem consolidar, uma vez que os artistas eram coagidos a aceitar as formulações estéticas que cumprissem o papel das ideologias de Estado.

Em Portugal o surrealismo foi um movimento tardio. Apenas em 1947 se dá uma aproximação mais formal com o movimento surrealista internacional, nascido no início dos anos 20 e que por essa altura já vivia uma segunda fase. É em 1947 que Cesariny conhece em Paris André Breton, o autor de conhecido Manifesto Surrealista e que viria a influenciar de forma decisiva a sua obra, sobretudo no que se refere à recusa do racionalismo e à valorização do inconsciente.

Os surrealistas afrontaram a escolástica racionalista, dando azo a que os pensamentos mais obscuros pudessem estar reflectidos nas suas telas. Propunham-se libertar a imaginação, o que levou Mário Cesariny a escrever, em 1949: “Só a imaginação transforma. Só a imaginação transtorna”. Tratava-se de subverter a realidade através do desejo e do inconsciente. Uma corrente criadora que recusava impor uma doutrina estética.

É também em 1947 que se forma o Grupo Surrealista Português, no qual pontificavam, além de Cesariny, Alexandre O’Neill e António Pedro. Mário Cesariny viria a demarcar-se deste grupo inicial. Formaria outro – Os Surrealistas – a que se associam nomes como os de António Maria Lisboa, Mário-Henrique Leiria, Carlos Calvet e Pedro Oom. Nos anos de 1949 e 1950, nas primeiras exposições surrealistas, Cesariny deu a conhecer algumas das suas obras.

As celebrações dos 100 anos de Mário Cesariny contam ainda com exposições no MAAT, no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso e no Centro de Arte Contemporânea de Coimbra.

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