Os preços das habitações em Portugal continuarão a subir até pelo menos 2026, mesmo com a estabilização dos juros, segundo a consultora Agenda Urbana.
Os principais fatores apontados incluem a escassez de mão de obra qualificada e a demora na implementação de medidas estruturais, como o programa “Construir Portugal” e o Orçamento de Estado para 2025 (OE2025).
Nos principais riscos e tendências da habitação, apesar do aumento da procura, impulsionada por taxas de juros mais baixas e medidas governamentais direcionadas, como isenções fiscais para jovens, o setor enfrenta desafios críticos.
A falta de mão de obra – estimada entre 80.000 e 90.000 profissionais – eleva os custos de construção, mesmo com a estabilização dos preços dos materiais.
Este défice, aliado à burocracia e atrasos em programas como o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), agrava a crise de oferta.
“O futuro da habitação em Portugal dependerá de uma combinação de fatores. A sustentabilidade do mercado exigirá a implementação eficaz das políticas de oferta, em particular da oferta de habitação a preços acessíveis. O planeamento urbano inclusivo, aliado a uma gestão eficiente dos recursos públicos e privados, será essencial para criar soluções habitacionais que respondam às necessidades da população”, revela Álvaro Santos, CEO da Agenda Urbana, sublinhando a necessidade urgente de abordagens inovadoras.
CENÁRIO ATUAL E PROJEÇÕES
Quanto ao crescimento dos preços entre 2015 e 2023, o aumento acumulado foi de 105,8%, com 2024 apresentando mais uma subida de 11% no valor médio de avaliação bancária nos primeiros 10 meses.
A procura em alta é mesmo de estrangeiros que investiram mais de €2.500 milhões no setor imobiliário em 2024, enquanto o saldo migratório positivo ultrapassou 155.000 pessoas em 2023.
No défice de licenciamento apenas 28.000 novas unidades foram licenciadas em 2024, número insuficiente para equilibrar a procura crescente.
INTERVENÇÕES DO GOVERNO: IMPACTOS LIMITADOS NO CURTO PRAZO
O programa “Construir Portugal”, lançado em 2024, promete reforçar a oferta por meio de medidas como incentivos fiscais, revisões urbanísticas e apoio à habitação acessível. O OE2025 também prevê um investimento adicional de €2.800 milhões para acelerar a construção ou reabilitação de habitação social, com a meta de alcançar 59.000 fogos até 2030.
Contudo, tal como a Agenda Urbana, também os analistas alertam que o impacto dessas medidas só deverá ser sentido no médio prazo, enquanto os desafios estruturais continuam a pressionar o mercado.
PERSPETIVA PARA 2025
O mercado imobiliário enfrenta atualmente um período de ajustamento. A expansão da construção modular e industrializada é vista como a solução mais promissora para mitigar os custos e estabilizar os preços, mas a falta de mão de obra e a burocracia são riscos significativos a curto prazo.
Contudo, o fortalecimento das políticas públicas habitacionais e a aposta em inovação “podem plantar as sementes para um mercado mais equilibrado no futuro. O sucesso desta transição dependerá da capacidade do país em transformar as boas intenções em resultados concretos,” refere a consultora.