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Rui Gonçalvez

MAIS FREGUESIAS… MAIS DESPESA

Rui Gonçalves, Arquitecto

As poucas movimentações, sem expressão, a manifestar desagrado, foram claramente orquestradas pelos próprios autarcas, que visavam aumentar o número de cargos políticos a distribuir. A única mazela deste processo é o ego do lobby autárquico. Somos péssimos gestores do país. Já dizia o general romano que, “nos confins da ibéria há um povo que não se governa nem se deixa governar”, precisamente, esse povo somos nós e já naquela altura tinha razão.

A Assembleia da República decidiu proceder à desagregação de um conjunto de 302 freguesias, que tinham sido “fundidas” no tempo da “troika”. Foi necessário vir uma entidade externa obrigar-nos a fazer o óbvio. O reordenamento da divisão administrativa do país e a redução da despesa, deveria ser um objetivo permanente de quem gere a coisa pública, o problema é que quem o faz, não lhe custa a ganhar aquele dinheiro e não o sente a sair do bolso, porque o dinheiro não é deles.

Com esta encenação puramente eleitoralista, aumentámos 168 freguesias relativamente às que tínhamos. E isto foi feito porque houve serviços prestados às populações que foram eliminados, ou ficaram reduzidos, ou essas populações foram de alguma maneira prejudicadas? Não, claro que não, até porque o processo de escolha das freguesias a agregar, foi democraticamente realizado pelos próprios municípios, que rapidamente reorganizaram as logísticas de forma a manter todos esses serviços tal como sempre existiram, em suma, a reorganização que devia ter sido levada a efeito por nossa iniciativa, com sucesso, acrescente-se, porque concretizou ganhos de escala, de eficiência e de massa crítica, só foi feita porque foi imposta, à boa maneira portuguesa.

E a evidência de que tudo funcionava em pleno, é que a “troika” saiu de Portugal há mais de dez anos e ninguém se recorda de termos notícias de revoluções, manifestações, ou protestos populares tão pouco, em nenhuma das freguesias na altura agregadas, para que este processo fosse agora discutido e aprovado pela Assembleia da República, exatamente em vésperas de eleições autárquicas.

As poucas movimentações, sem expressão, a manifestar desagrado, foram claramente orquestradas pelos próprios autarcas, que visavam aumentar o número de cargos políticos a distribuir. A única mazela deste processo é o ego do lobby autárquico. Somos péssimos gestores do país. Já dizia o general romano que, “nos confins da ibéria há um povo que não se governa nem se deixa governar”, precisamente, esse povo somos nós e já naquela altura tinha razão.

A questão é que o frenesim eleitoralista destrói o país e os lugares na administração pública nunca são suficientes para satisfazer a voracidade dos partidos que controlam o aparelho do estado, porque as clientelas partidárias, cada vez menos habilitadas, acrescente-se, estão sempre à espera de um lugar oferecido pelo partido e uma Junta de freguesia, é sempre uma vitória, porque mais 168 executivos, representam uns milhares de lugares para distribuir por militantes, amigos e familiares.

Esta despesa direta, acrescida das que resultam da nova reorganização, em termos de equipamentos, viaturas, etc…, significa qualquer coisa como um custo de perto de 30 milhões de euros por ano, sem que se reflita em qualquer efetiva melhoria para as populações.

Num momento em que devíamos ser obrigados a falar em redução drástica de cargos políticos (e de vez em quando há quem fale) e de despesa do Estado, a Assembleia da República entretém-se a fazer exatamente o contrário e é para nosso bem que devemos registar o momento, para sabermos para onde vão os impostos obscenos que nos andam a extorquir.

Entretanto, estão aí à porta as eleições autárquicas e lá teremos mais uns autarcas felizes e contentes, de ego insuflado, à custa de todos nós.

Mas, enquanto a vergonha não os assiste, o povo resiste.

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