A Anunciação do Anjo e a Redenção do Homem

Ricardo Formigo, Professor de Português

O filme sobre os prisioneiros de Shawshank conta a história, do ponto de vista do prisioneiro Red (Morgan Freeman), de um homem chamado Andy Dufresne (Tim Robbins), um jovem banqueiro, que entrou na prisão de Shawshank em 1946, condenado a duas penas de prisão perpétuas por ter assassinado a sangue-frio a mulher e o amante desta.

Hoje, dia 25 de março, é o dia do Angelus: “O Anjo do Senhor anunciou a Maria. E Ela concebeu do Espírito Santo.” O dia em que o Anjo Gabriel anunciou a Nossa Senhora que ela iria ser a Mãe do Filho de Deus. Nove meses depois, é o Natal. No Cristianismo, nenhum pormenor é deixado de fora.

Pensemos neste momento que definiu a história do mundo, tal como ele é. Nossa Senhora disse “sim” ao Anjo e muito do que nós conhecemos teria sido diferente se a resposta tivesse sido outra.

Gosto muito de um filme chamado “Os Condenados de Shawshank”, um filme de 1995 do realizador Frank Darabont, o melhor classificado de sempre pelo IMDB, com 9.3/10. O título, em português, deixa bastante a desejar. O título original, em inglês, é “Shawshank Redemption”, “A Redenção de Shawshank”.

É interessante darmo-nos conta da oposição entre a condenação e a redenção e, para aqueles que conhecem o filme, não hesitarão em concordar comigo quando afirmo que o título traduzido à letra do inglês se adequaria melhor à mensagem que o filme passa: uma mensagem de esperança e de amizade.

Li recentemente o livro que deu origem ao filme: uma novela americana de Stephen King, o grande contador de histórias, com o título Rita Hayworth and Shawshank Redemption. Quem era Rita Hayworth e por que razão merece o seu nome no título? Rita Hayworth foi uma atriz nova-iorquina que alcançou o topo da sua fama na década de 40. Viria a morrer em 1987.

O filme sobre os prisioneiros de Shawshank conta a história, do ponto de vista do prisioneiro Red (Morgan Freeman), de um homem chamado Andy Dufresne (Tim Robbins), um jovem banqueiro, que entrou na prisão de Shawshank em 1946, condenado a duas penas de prisão perpétuas por ter assassinado a sangue-frio a mulher e o amante desta.

Na prisão, Andy revela-se capaz de ser livre, mesmo atrás das grades, não sem passar pelo sofrimento de ser o tipo novo numa prisão. Red é o tipo que consegue tudo e Andy começa a usufruir dos seus serviços, pedindo-lhe objetos algo excêntricos: um martelo de geólogo para esculpir rochas e posters de mulheres. O primeiro que pede é da Rita Hayworth, a personagem principal do filme “Gilda”, um filme de 1946, que era o único filme que passava nas noites de cinema e, deste modo, era a única mulher que podia “entrar” na prisão.

O final do filme revela-nos a urgência que Andy tinha em conseguir este poster. Não era apenas para o pendurar na parede da cela e recordar-se da presença feminina na sua vida, que perdeu e alegadamente matou. Outro sim, a sua mulher, Linda, foi, de forma indireta, a razão de Andy ir para a prisão. O pecado da sua mulher (a traição, o facto de “comer do fruto proibido”) levou a que Andy passasse umas boas décadas na prisão.

Andy consegue uma vida privilegiada na prisão ao mostrar-se um prisioneiro irrepreensível e servil, fazendo as declarações de impostos dos guardas de Shawshank e ajudando o diretor a lavar o dinheiro sujo do programa “Inside-Out”, onde uma boa parte dos rendimentos ia para os bolsos de Samuel Norton (Bob Gunton).

O diretor Norton tem no seu gabinete um quadro com um bordado da mulher feito no grupo da igreja. Um olhar mais atento sobre a predileção de Norton por frases bíblicas (e a leitura do livro de Stephen King), mostram-nos que Norton é um protestante, da “Baptist Advent Church of Eliot”. A Igreja Baptista, para além de acreditar na sola scriptura (apenas o que está escrito na Bíblia é que conta), também ministra o batismo como sacramento único apenas a adultos decididos a abraçar a fé. Esta confissão professa a sua crença em Jesus, que veio ao mundo, na Santíssima Trindade, na segunda vinda de Cristo, da necessidade de redenção e no Juízo Final.

Tim Robbins no filme Shawshank abria todas as noites um poster de Rita Hayworth

No final do filme, percebemos que Rita Hayworth (cujo poster tinha sido trocado por Marilyn Monroe e, posteriormente, por Raquel Welch) guardava um segredo: Andy ocupava-se todas as noites a abrir um túnel que durante o dia cobria com um poster. Quanto aos detritos do túnel, guardava-os nos bolsos e despejava-os no pátio da prisão.

O que tem isto a ver com a fé? E sobretudo com a Anunciação do Anjo?

Há duas mulheres que assumem um papel importante no filme: Linda (a mulher que pecou) e Rita (a mulher através da qual o homem condenado conseguiu a salvação). Para um protestante puritano como Samuel Norton, a redenção nunca poderia vir através de uma mulher, uma vez que os Baptistas não acreditam na Virgem Maria. “A salvação está aqui dentro”, diz a certa altura Norton apontando para a Bíblia. Segundo a sola scriptura, as frases bíblicas são meras palavras que não incidem sobre a vida, acabando por ser usadas como slogans-para-todas-as-ocasiões.

Não quero com isto dizer que este filme, mundialmente aclamado pela crítica, é um filme católico que expressa intencionalmente uma verdade do credo da Igreja Católica, mas sob o ponto de vista de um católico, é extremamente curioso o curso que os acontecimentos têm. Como no Cristianismo, nada é deixado ao acaso. O que é que na nossa vida nos dá a esperança da Redenção? Neste dia, 25 de março, foi-nos anunciada o Salvador, que viria através de uma mulher, graças ao seu sim.

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