Na noite de 24 de abril de 1915 – o Domingo vermelho – o governo otomano prendeu em Constantinopla (actual Istambul), mais de seiscentos intelectuais, políticos, escritores, religiosos e outros profissionais arménios, conduzidos brutalmente para o interior do país, perto de Ancara, e selvagemente assassinados, pelo movimento revolucionário dos Jovens Turcos, uma coligação de diferentes grupos que tinham em comum o desejo de reformar o governo e a administração do Império Otomano.
O movimento dos Jovens Turcos surgiu em 1889, primeiro entre estudantes militares, espalhando-se gradualmente a outros sectores da população que se opunham à monarquia do sultão Abdulamide II.
A fundação oficial do Comité para a União e Progresso, em 1906, atraiu a maioria dos Jovens Turcos, conseguindo uma forte contestação, que marcou a vida cultural e artística, intelectual e política do final do período otomano, incluindo o seu declínio e dissolução.
Os Três Paxás, pertencentes aos Jovens Turcos, governaram o império desde o Golpe de 1913 até ao fim da Primeira Guerra Mundial. Neste período de forte imposição otomana a violência aumentou dando início ao extermínio sistemático praticado pelo governo contra os seus súbditos arménios, no território que constitui a actual República da Turquia. O Holocausto dos arménios, em 1915, foi uma consequência desta política de homogeneização cultural.
Nos Estados Unidos, o jornal The New York Times relatou quase diariamente o assassinato em massa do povo arménio, descrevendo o processo como “sistemático”, “autorizado” e “organizado pelo governo”. Mais tarde, Theodore Roosevelt caracterizou-o como “o maior crime de guerra”.
Em Agosto de 1915, o New York Times repetiu um relatório onde reportava que “nas estradas e no Eufrates estavam espalhados os cadáveres dos exilados e os que sobreviviam estavam condenados a uma morte certa. Era um plano para exterminar todo o povo arménio”. Os massacres priorizavam a elite, muito embora, no final do genocídio, a maior parte da comunidade arménia tivesse sido destruída.
Tropas otomanas escoltando os arménios, não só permitiram roubos, estupros e assassinatos dos últimos, como muitas vezes elas próprias as praticavam. Privados dos seus pertences e marchando para o deserto, centenas de milhares de arménios morreram.
O genocídio foi realizado durante e após a Primeira Guerra Mundial e executado em duas fases: a matança da população masculina, através de massacres e recrutamento para exército e para trabalhos forçados, seguida pela deportação de mulheres, crianças, idosos e enfermos em longas marchas da morte. Impulsionada por escoltas militares, os deportados foram privados de comida e água e submetidos a roubos, estupros e massacres periódicos. O número total de pessoas mortas como resultado do genocídio é estimado entre 800 mil e 1,8 milhão.
Outros grupos étnicos nativos e cristãos, assírios e gregos otomanos, foram igualmente submetidos pelo governo a semelhante perseguição, o que é considerado por muitos historiadores como fazendo parte da mesma política, uma limpeza étnica total. “Povoado após povoado, cidade após cidade, foram esvaziadas de sua população arménia”.
O genocídio arménio é reconhecido como tendo sido um dos primeiros genocídios modernos, os estudiosos destacam a forma organizada em que os assassinatos foram realizados a fim de eliminar o povo arménio, e é o segundo caso mais estudado de genocídio após o Holocausto, promovido pela Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, convém não esquecer, outros massacres ao longo do século XX, como , na Ucrânia o Holodomor, na China durante o regime de Mao e o genocídio do Camboja, com Pol Pot.
A Turquia, o Estado sucessor do Império Otomano, nega o termo “genocídio” como uma definição exata para os assassinatos em massa dos arménios, que começaram sob o domínio otomano em 1915 e só terminaram no fim da primeira guerra mundial.
Nos primeiros anos da República turca foram destruídos muitos documentos da época otomana o que dificultou a pesquisa, bem como encontrar a localização das valas comuns.
O historiador e sociólogo Taner Akçam, apresentou uma dissertação com vários documentos comprovativos sobre o Movimento Nacional Turco e o Genocídio Arménio. Esta tese aliada a muitos outros trabalhos credíveis de vários historiadores, não deixaram qualquer espaço de dúvidas sobre a violência desta “limpeza étnica”.
Genocídio é o extermínio deliberado para aniquilar pessoas, motivado por diferenças étnicas, nacionais, raciais, religiosas ou sociopolíticas. É uma forma de eliminar todo o ser humano que se encontra nas condições consideradas necessárias e prementes para satisfazer interesses ou agendas ideológicas de uma determinada época.
Os alemães, aliados dos turcos na Primeira Guerra Mundial […] viram como as populações civis foram fechadas em igrejas e queimadas, ou reunidas em massa em campos, torturadas até a morte, e reduzidas a cinzas.
O Patriarca Arménio de Constantinopla apresentou uma lista dos locais sagrados sob sua supervisão, em 1914. A lista continha 2 549 lugares religiosos, dos quais 200 eram mosteiros e 1 600 igrejas.
Em 1974, a UNESCO declarou que, após 1923, de 913 monumentos históricos deixados pelos arménios na Turquia oriental, 464 desapareceram completamente, 252 estão em ruínas, e 197 estão em necessidade de restauração.
Acredita-se que cerca de 1,5 milhão de arménios foram mortos durante o genocídio. Dentre eles, vários morreram assassinados por tropas turcas, em campos de concentração, queimados, enforcados, mas a maior parte terão morrido por inanição, ou seja, falta de água e de alimentos.
Os sobreviventes do genocídio saíram do Império Otomano e instalaram-se em diversos países, a diáspora arménia, estimada em mais de oito milhões de arménios.
Em 24 de maio de 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, as potências aliadas (Reino Unido, França e Império Russo) emitiram um comunicado conjunto no qual disseram que, por aproximadamente um mês, as populações curda e turca da Arménia tinham massacrado os arménios, com conivência e muitas vezes ajuda das autoridades otomanas, e que as Forças Aliadas iriam procurar todos os oficiais do governo otomano implicados em tais crimes contra a humanidade.
Nos últimos anos, os parlamentos de vários países reconheceram formalmente este flagelo como um genocídio e desde 1987 também foi reconhecido pelo Parlamento Europeu.
Tsitsernakaberd, o memorial oficial da Arménia dedicado às vítimas deste genocídio, construído em 1967, na colina de mesmo nome, em Erevã, onde todos os anos nesta data milhares de pessoas depositam flores em memória das vítimas.
Este memorial inclui 12 estelas de basalto, junto a uma chama eterna, e uma flecha de 44 metros de altura, simbolizando o renascimento do povo arménio, foi inaugurado em 1967, dois anos após as manifestações em Erevan pedindo pela primeira vez o reconhecimento do termo “genocídio”.
A Igreja arménia canonizou 1,5 milhão de vítimas do genocídio.
A Arménia é povoada desde os tempos pré-históricos e era o suposto local do Jardim do Éden bíblico. O país localiza-se no planalto da montanha bíblica do Ararat, segundo a tradição judaico-cristã, foi o local onde a Arca de Noé encalhou após o Dilúvio.