“Ser Vulnerável”, a segunda sessão de um ciclo de três, do curso “Ser Humano e Permanece-lo” decorreu na passada 3a feira, 29 de abril, no Centro Cultural de Belém. Os temas da maternidade, fertilidade, aborto e ainda um testemunho sobre a bipolaridade alertam-nos para a vulnerabilidade inerente a cada um de nós.
Dando destaque à forma como, por vezes, podemos encarar a vida automaticamente como um “peso” em vez de nos permitirmos ver como “tendo um peso”, foi um dos focos da sessão organizada pela associação Pensar&Debater.
Bem como o facto de que a morte não dependendo de nós, apenas a vida – e aquilo que dela fazemos -, é ela (vida) que devemos atribuir a devida importância. “Carregamos todos o peso da vida, pelo que então é melhor carregá-lo juntos.” Seria uma conclusão a retirar.
Numa citação direta de Martin Steffens: “A desumanidade é o que acontece quando a humanidade se tornou num atributo que eu questiono ao outro, em vez de ser, em primeiro lugar, uma atitude que eu exijo de mim”.
Jeanne Bertin-Hugault, responsável do serviço de escuta SOS Bébé da associação Aliance Vita apresentou, em formato de vídeo, uma vez mais sobre a vulnerabilidade nas suas várias etapas, desde o embrião, o desenvolvimento do feto, a mulher grávida e também o pai. Expondo esta característica como “uma abertura ao outro”.
Esquecemo-nos, enquanto sociedade, de onde é que viemos – por vezes – e isso levará a que não tenhamos para onde ir, tanto quanto nos recusarmos à benevolência que a gravidez assim requer.
“Não haveria algo de desumano em pensar que nada nos pode afetar?”, foi uma das questões levantadas durante a sessão que nos deixa com muito em que refletir.
Não existe fertilidade sem infertilidade
As clínicas privadas desde sempre têm-se aproveitado da circunstância de haver infertilidade para pressionem os casais a optarem pela opção mais cara, destacam os especialistas, e por outro lado não se ataca o problema de raiz, o que leva a que de cada vez que esse mesmo casal quiser ter um filho terá que recorrer a técnicas dispendiosas.
Quanto menos investigação continuar a existir neste meio vai prevalecer a imagem de que estas técnicas são mesmo a única opção, quando isto não deveria ser verdade. Acentuado pela escassez de tempo com que os casais chegam normalmente às clínicas de procriação medicamente assistida.
“Trabalhamos todos os dias para contornar a infertilidade, mas não para a tratar diretamente. Processo que acharíamos ridículo com qualquer outra situação médica. Imaginemos o caso de alguém que parte uma perna e lhe é automaticamente recomendada uma cadeira de rodas sem que primeiro se possa considerar uma solução que conserve à pessoa a vida que antes levava,” um dos exemplos apresentados na sessão sobre infertilidade.
E quando queremos interromper uma gravidez? Em Portugal, a interrupção da gravidez por opção da mulher pode ser realizada nas primeiras 10 semanas (10 semanas + 6 dias) de gravidez, calculadas a partir da data da última menstruação e confirmadas por ecografia, conforme informação do Serviço Nacional de Saúde.
Mas como se pode pedir à mulher que decida durante o período mais frágil do seu copo? Como pode ela estar preparada psicologicamente e fisicamente para tomar tal decisão?
Estima-se que “as mães grávidas a viver sozinhas têm seis vezes maior possibilidade de abortar. Segundo dados da Federação Portuguesa pela Vida os terceiros e seguintes filhos têm duas vezes mais probabilidades de serem abortados.