Há aqui vários mal-entendidos que convém desembrulhar e correlacionar, porque a saúde da mente estará sempre mais perto de ser eficaz, quanto mais se souber como funciona.
Os hábitos são, na sua maioria, perpetuações facilmente confundíveis com certezas, dogmas ou cristalizações que por seu turno formam um sistema de crenças.
Nas azáfamas que pululam nas nossas mentes e minam as saúdes, criam-se hábitos a que largamos a nossa plasticidade e deixamo-nos levar pela ideia, que num encolher de ombros, classificamos como, “eh pá sou assim”, ou, “não sei fazer isto”.
Há aqui vários mal-entendidos que convém desembrulhar e correlacionar, porque a saúde da mente estará sempre mais perto de ser eficaz, quanto mais se souber como funciona.
Vou começar pelo fim e por uma frase muito simples. Somos nós os criadores das nossas realidades e hábitos.
A quem, como eu, dedica muito do seu tempo nestas maioneses conceptuais, linguísticas e etéreas, pouco mais haveria a dizer sobre isto e este artigo acabava aqui.
No entanto, eis o que os nossos hábitos retiram das nossas consciências operadoras que tanto trabalham para nos manter seguros dos nossos sistemas de crenças. Não estamos condenados a perpetuar nada e podemos mudar de ideias sempre que quisermos questionar-nos a propósito de um comportamento aparentemente sistémico, uns valores apropriados ou uma desistência de aprendizagem.
Conforme vamos dando voltas ao sol, corremos o risco da teimosia dos hábitos se tornarem tão dominantes que impossibilitam qualquer evolução ou descoberta.
Cheguei a esta conclusão depois de uma conversa com uma pessoa, colega de profissão que eu tenho em alta estima e que escreve muito melhor do que eu. Logicamente a “Marília” (nome fictício) é alguém a que eu criei a ideia de que é altamente capaz e perita na sua área.
Na nossa conversa, a “Marília” diz-me que não sabia se tinha capacidade para continuar uma aprendizagem nova, na forma de um curso. Naturalmente que a minha primeira resposta foi, claro que és.
Depois de algumas frases motivacionais percebi qual era o hábito ali criado, uma daquelas cristalizações teimosas da qual eu também padeço. A melhor forma de encapsular este hábito maleitoso é escrevê-lo assim, ter a máxima exigência de resultado com zero conhecimentos. Claro, está, é uma receita desastrosa que só vai entroncar com outras parvoíces que, muitas vezes acabam na desistência, com consequências para a autoestima.
Tanto eu como a “Marília” temos de entender uma coisa. Sempre que vamos aprender uma coisa nova, estamos perante uma experiência nova e os velhos hábitos não servem para nada.
A nossa exigência, que também se prende com a pressa de saber e produzir, tem de ser substituída pela humildade de aceitar, que não sabemos tudo, não temos de exigir de nós a regurgitação de resultados a pronto, e podemos retirar o peso que nós mesmos pusemos nas nossas expectativas. Esta é uma palavra-chave que conduz e alimenta a teimosia dos nossos hábitos.
Certo é que, se formos às nossas infâncias e adolescências, encontraremos inúmeras fontes que nos forçaram a produzir resultados rápidos e a criar expectativas que se tornaram projecções.
De uma forma geral, a projecção é mais uma artimanha que as nossas mentes usam para simplificar conclusões e classificações sobre nós ou sobre o outro. No meu caso e da “Marília”, a colisão entre a exigência e a falta de conhecimentos prévios, é uma projecção sobre outras colisões similares que tivemos no passado em que pensámos que foi através desta exigência, e só dela, é que extraímos tanto a insistência no processo de aprendizagem, como o resultado de assimilação.
Só que isto não é verdade. A verdade é que não confiamos em nós e nas nossas capacidades, e temos uma voz cá dentro que se habitou a dizer e a cristalizar ideias como, “se não percebes rápido, então não és capaz, porque és burro”.
Se tanto eu ou as “Marílias”, que continuam a criar o hábito de quere saber tudo à velocidade de um scroll de Instagram, desistirem de aprender coisas novas, não se submeterem-se à vulnerabilidade de feedbacks e entender que as críticas não são pessoais, nunca vamos perceber que o objectivo de aprender é a viagem.
A viagem só é possível se embarcarmos na aventura e não a tentarmos controlar assim que sairmos da terra segura e habitual. E só se aprende se a largarmos. Só assim poderemos experienciar em nós e colher alegrias que nos desafiam e nos retiram da prisão dos hábitos.