Face à sedução crescente dos ecrãs que tanto prejudicam o desenvolvimento dos nossos filhos, tanto a nível intelectual e cognitivo como físico-motor, Michel Desmurget apresenta-nos a leitura como a única forma de resistência possível ao avanço incontrolável do digital, num livro imprescindível para pais e educadores.
Depois de com “A Fábrica de Cretinos Digitais” o prestigiado neurocientista Michel Desmurget nos alertar para os perigos que a exposição excessiva aos ecrãs representa para o desenvolvimento das crianças, revela-nos agora, no seu novo livro “Ponham-nos a Ler” ( 2024) da Contraponto Editores, qual é o grande antídoto – o principal, até – contra o surgimento do «cretino digital»: ler «por prazer».
Neste livro, a leitura surge como a base que permite à criança desenvolver os três pilares da sua essência humana: aptidões intelectuais, competências emocionais e habilidades sociais. Michel Desmurget mostra-nos ainda que, apesar dos esforços dos media para nos convencer do contrário, os jovens não só leem cada vez menos, como leem cada vez pior.
Segundo ele, saber ler é mais do que decifrar o alfabeto e juntar letras e sílabas – é preciso que a criança compreenda e interprete o que está escrito, só assim poderá aprender a compreender o meio em que está inserida. O papel dos pais é, por isso, fundamental, cabendo a estes estimular nos filhos o gosto pela leitura, mediante as estratégias apontadas pelo autor.
«De certa forma, este livro representa uma declaração de utilidade pública dos benefícios da leitura por prazer. Proponho-me a explicar, em termos tão simples quanto possível o que o livro faz ao cérebro das crianças e a razão pela qual é fundamental que estas leiam desde muito jovens. Isto vai levar-nos a ignorar os espaços subjetivos do testemunho pessoal e da suposição filosófica, para nos concentrarmos nos contributos científicos validados.
Chegaremos então a uma conclusão clara, cuja mensagem pode ser resumida da seguinte forma: desde o aparecimento da linguagem, a humanidade não inventou nada melhor do que a leitura para estruturar o pensamento, organizar o desenvolvimento do cérebro e civilizar a nossa relação com o mundo. O livro constrói realmente a criança na sua tripla componente intelectual, emocional e social.
O declínio súbito desta actividade entre as novas gerações é, portanto, uma verdadeira catástrofe para a fecundidade coletiva da nossa sociedade, tanto mais que a leitura está a desaparecer em favor de uma cultura digital recreativa, certamente mais lucrativa para os diversos atores industriais, mas cujo efeito de embrutecimento está agora irrevogavelmente demonstrado por um vasto conjunto de estudos científicos, com influências negativas comprovadas sobre a linguagem, a concentração, a impulsividade, a obesidade, o sono, a ansiedade e o sucesso escolar, entre outros».
Face à sedução crescente dos ecrãs que tanto prejudicam o desenvolvimento dos nossos filhos, tanto a nível intelectual e cognitivo como físico-motor, Michel Desmurget apresenta-nos a leitura como a única forma de resistência possível ao avanço incontrolável do digital, num livro imprescindível para pais e educadores.
Preocupante para o autor deste livro é também o facto de este declínio de leitura e de aprendizagem se revelar apenas nos países ocidentais, que ao longo dos últimos quarenta anos se dedicaram a uma economia do lazer, de bem-estar, da imagem e do consumo.
Michel Desmurget (1965) é um dos mais prestigiados neurocientistas do mundo. Doutor em Neurociências, é director de investigação do INSERM. Escreveu em 2011 “La vérité scientifique sur les effets de la télévision, onde denuncia os efeitos nocivos da televisão sobre a saúde e o desenvolvimento cognitivo, especialmente em crianças.
Com livros traduzidos em vinte países, é autor do bestseller “A Fábrica de Cretinos Digitais – Os perigos dos ecrãs para os nossos filhos”, publicado em 2021. A actividade científica que desenvolve incide sobretudo nos efeitos que a televisão e a exposição aos ecrãs de todo o tipo produzem na nossa saúde e no nosso desenvolvimento cognitivo, em especial na infância e adolescência.
“Ponham-nos a Ler” é o seu mais recente livro. Não será uma conclusão desanimadora, mas um alerta de como de como a leitura e sobretudo a leitura crítica é uma ferramenta cada vez mais necessária e fundamental à sobrevivência das democracias.
Reiterando a pertinência deste livro, recordo que aprendemos na proporção do que já sabemos, logo teremos de inverter rápidamente a espiral descendente a que nos conduziram.
Férias felizes com excelentes leituras.