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O RELATIVISMO É UMA FORMA DE “SNOBISMO”

Susana Mexia

Em muitos meios profissionais, familiares e académicos é altamente desaconselhável empregar os termos “valores”, “ética” ou “moral”. Provocam grandes reações, promotoras de conflitos e, por vezes, até são considerados estigmatizantes… Opta-se, então, pelo mais fácil, mais cómodo, menos comprometedor, omitindo-se estes incomodativos vocábulos, segundo Diego Poole na sua obra Qué es el relativismo? 

Ditadura do relativismo é uma expressão que pretende impor ao mundo um ideológico regime de pseudo pensamento único, uma cultura que de tão aparentemente inócua tem no seu seio a negação de toda e qualquer verdade absoluta, ousando ser implementada ditatorialmente, proibindo, denegrindo ou trucidando quem se atrever a sustentar o contrário.
Nesta guerra de “vagas ideias” ou mesmo preconceitos, tudo se impõe como relativo, exceptuando o próprio relativismo, o maior absurdo alguma vez arquitectado pelos agentes da construção social ou do poder económico e político.

Pensamento único que se arroga no poder de aniquilar e denegrir, quem dele discorde. É uma triste mentalidade malabarista, envolta numa capa subtil de não só gerar a confusão entre o saber e a ignorância, mas ainda abalar e destruir os fundamentos éticos, filosóficos e religiosos, nomeadamente os monoteístas, que são os alicerces e garantes de toda a Verdade.

Esta incoerência ideológica, não é fruto de um grande amor à liberdade de pensar, mas antes uma atitude snob de repúdio à verdade, que sob uma hipócrita capa de tolerâncias ou consensos, infringe uma verdadeira tirania de pensamento único com consequentes correctivos autoritários, bloqueantes e atrofiadores.

Ao longo dos séculos foram muitas as correntes ideológicas, as modas do pensamento levadas de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo e ao libertinismo; do coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago, confuso, disperso e colorido misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo, com variantes sempre novas, que astuciosamente pretendem enganar os homens, induzi-los em erro, sob pena de serem rotulados de fundamentalistas, retrógrados e outros adjectivos menos elegantes.

Enquanto o relativismo apela ao deixar-se levar «guiados por qualquer vento de doutrina», vai-se construindo uma “ditadura do relativismo”, que não reconhece nada como definitivo e só deixa como última medida o próprio eu caprichoso, as suas fragmentadas vontades, derrubando paradigmas éticos e morais consolidados ao longo dos tempos pela humanidade.

Disfarçado de cepticismo e utilitarismo, derruba as normas morais válidas para todos os homens, num relativismo moral de tal forma estreito onde não cabem a “dimensão do maior”, o “para além de”, uma outra “abrangência menos plana ou horizontal” e o ser “mais transcendente, elevado e magnânimo”.

A tríplice relativismo, cepticismo e utilitarismo, só aceita o que supõe poder ajudar a viver num super bem-estar hedonista, hoje, aqui e agora. Tem uma aversão profunda ao sacrifício, à generosidade e à renúncia, só conhece interesses económicos e políticos, pelos quais luta e impõe, sempre disfarçados de novos direitos, novas liberdades, novas utopias idealistas de cariz destrutivo e mortífero, entrando em colisão com toda a antropologia humana e estilhaçando a essência e o sentido da vida.

Em muitos meios profissionais, familiares e académicos é altamente desaconselhável empregar os termos “valores”, “ética” ou “moral”. Provocam grandes reações, desencadeadoras de conflitos e, por vezes, até são considerados estigmatizantes… Opta-se, então, pelo mais fácil, mais cómodo, menos comprometedor, omitindo-se estes incomodativos vocábulos.

Maltratada a solidez dos valores na formação humana, sem referências balizadoras e superiores, coartado o recurso a uma alteridade transcendente, o homem fica à mercê de predadores, sem norte, sem bússola e sem caminho.
A condição humana empobreceu, tornou-se frágil e abandonou-se nas mãos dos que, em nome duma falsa liberdade, esquecem ou ignoram a sua responsabilidade deontológica. Esta essência humanista não é uma criação das religiões, uma variante filosófica ou moralista mas, simplesmente, um conjunto de princípios elaborados pelo ideal humano de se querer fazer mais homem, mais competente, mais perfeito, mais humano, tendo em conta a sua dignidade como Pessoa, em todas as circunstâncias, nomeadamente, nos momentos de maior fragilidade física e psíquica, nas crianças, nos adultos, nos idosos e nos mais desfavorecidos ou desprotegidos.

Os valores estão para além de todo o homem e neles nada há de neutro: ou é bem ou é mal, não há meios termos, assim-assim, como se fossem uma peça de roupa que se modela ao corpo, à ocasião, ao momento ou às circunstâncias.
Matar é matar, mandar matar é matar, permitir ou instigar a que outros o façam é, também, matar. Abusar do alheio, apropriar-se do que não deve para benefício próprio é roubar, deixar roubar ou pactuar com quem o faz, é roubar, não recorramos a termos ambíguos, híbridos e perversos para confundir ou aliviar a culpabilidade.

O mal é sempre mal, tolerá-lo, consenti-lo é tornar indistinta a sua separação do bem e, aí vão crescer e proliferar todas as atitudes, acções e reacções doentias, perigosas e nocivas, pois o terreno onde fermentam é indefinido, amorfo, falso e escorregadio, arrasta muitos e leva outros à perdição.
É imperioso e urgente que a formação do carácter e duma segura educação no sentido de divinizar o ser humano seja aplicada em todos ao níveis formativos. Conhecer o bem, ter a liberdade e a inteligência de optar por ele é um acto moral obrigatório, é um dever.

Superar-se, porque a pessoa transcende a sociedade, é um valor absoluto, para tal deve o homem procurar a excelência, abrir os olhos, discernir, saber ver e lutar, refrear consequências, estar alerta e alertar, substituir a tibieza pela audácia, riqueza primeira e última de uma existência verdadeiramente humana, porque o seu valor é um dom, fundamento último do absoluto de Ser Pessoa.

«O amor à verdade e a fé no poder da inteligência humana são o motor de toda a busca filosófica. O relativismo é um snobismo intelectual que revela uma insuficiência na capacidade de julgar e discernir sobre a Verdade ou a sua ausência, a mentira. É como uma imunodeficiência face às Ideias» (Qué es el relativismo? de Diego Poole)

Susana Mexia

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