O clássico livro de Werner Jaeger, Paidéia – A Formação do Homem Grego, um dos marcos da cultura do nosso tempo, é o estudo mais profundo e completo sobre os ideais de educação da Grécia antiga. Jaeger estudou a interação entre o processo histórico da formação do homem grego e o processo espiritual através do qual os gregos chegaram a elaborar seu ideal de humanidade
De Atenas nos veio o amor pela liberdade política, a democracia, a filosofia que busca educar o Homem no uso da razão; na busca da Verdade, do Bem e do Belo. De Roma nos veio o Direito, a organização do Estado, o primado da lei acima de tudo e de todos, ricos, pobres, escravos e governantes.
Werner Jaeger nasceu em Lobberich. Frequentou a escola nesta cidade e o Gymnasium Thomaeum, em Kempen. Estudou na Universidade de Marburg e na Universidade de Berlim. Doutorou-se em 1911, com uma tese sobre a Metafísica de Aristóteles.
Apenas com 26 anos, Jaeger foi convidado para ser catedrático na Universidade de Basileia, na Suíça, indo no ano seguinte para Kiel, e em 1921 voltou a Berlim, onde permaneceu até 1936, ano em que emigrou para os Estados Unidos, insatisfeito com a ascensão do Nacional Socialismo.
Nos Estados Unidos, Jaeger trabalhou em dedicação exclusiva como professor na Universidade de Chicago de 1936 a 1939. Depois mudou para a Universidade de Harvard e finalmente para a cidade de Cambridge (Massachusetts), onde permaneceu até ao fim da sua vida.
Werner Jaeger na introdução do seu livro “Paideia: a formação do homem grego”, defende que «a nossa história – na sua mais profunda unidade – começa com a aparição dos Gregos.” Há uma unidade de sentido entre todos os povos ocidentais e a Antiguidade Clássica, uma história “que se fundamenta numa união espiritual viva e activa e na comunidade de um destino […] uma comunidade de ideais e de formas sociais e espirituais que se desenvolvem e crescem independentes das múltiplas interrupções e mudanças.”
“O início da história grega surge como princípio de uma valoração nova do Homem, a qual não se afasta muito das ideias difundidas pelo Cristianismo sobre o valor infinito de cada alma humana, nem do ideal de autonomia espiritual que desde o Renascimento se reclama para cada indivíduo. E teria sido possível a aspiração do indivíduo ao valor máximo que os tempos modernos lhe reconhecem, sem o sentimento grego da dignidade humana? É historicamente indiscutível que foi a partir do momento em que os gregos situaram o problema da individualidade no cimo do seu desenvolvimento filosófico que principiou a história da personalidade europeia. Roma e o cristianismo agiram sobre ela”.
De Atenas nos veio o amor pela liberdade política, a democracia, a filosofia que busca educar o Homem no uso da razão; na busca da Verdade, do Bem e do Belo. De Roma nos veio o Direito, a organização do Estado, o primado da lei acima de tudo e de todos, ricos, pobres, escravos e governantes. O Estado não está ao serviço do governante, mas ao serviço da “Res publica”, literalmente coisa pública, ou seja, o que é de todos; daqui deriva o sistema de governo República. De Jerusalém nos veio o judaísmo por intermédio do Cristianismo, o monoteísmo que veio substituir o politeísmo que reinava tanto em Atenas como em Roma. O monoteísmo veio servir de suporte aos valores ocidentais, ao primado da lei por exemplo; todos são iguais perante a lei porque todos são filhos do mesmo Deus, criador do Céu e da Terra, um ser pessoal amoroso e bondoso e não caprichoso como os deuses das mitologias grega e romana.
Neste contexto em que nos inserimos, um indivíduo projecta-se como ponto de ruptura e de modelagem no tempo e no espaço, Jesus Cristo. A Sua mensagem dividiu a história secular traduzindo assim a exponencial curva que se verificou a partir dele em termos de moralidade e dignificação do ser humano. O significado histórico, portanto, do advento do Cristo é o que precisaria primeiramente ser retomado no que tange às tentativas de resgatar a nossa própria imagem perante nós mesmos, o que em nada, por óbvio, diminuiria o significado eterno da Sua palavra. Daí a importância da relação explicitada por Jaeger na Paideia nos seguintes termos:
«É necessário reconquistar paulatinamente a nossa própria história das mãos enganadoras daqueles que viram na construção do ideal do Ocidente apenas uma concessão ao desvario de mentes religiosas e fanáticas, pois, na verdade, fanáticos são aqueles que tecendo intelectualmente teorias supostamente morais, se desobrigaram da moral individual que sustenta cada um de nós e qualquer sociedade minimamente desenvolvida».