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Trump: mais 4 anos

Ricardo Pinheiro Alves, Professor Universitário de Economia

O nível de vida, o custo da energia, a imigração ou o fanatismo progressista estão entre os temas importantes, tanto nos EUA como na Europa. Mas ao contrário do que acontece com Trump, na Europa prefere abordar-se as eleições norte-americanas com base em assuntos que são pouco relevantes para os eleitores, como as relações internacionais, a Ucrânia ou Israel.

Se há um ano alguém me dissesse que Trump iria ganhar as eleições eu não acreditaria. As acusações amontoavam-se, poderia ser condenado antes das eleições, e foi num caso, e o 6 de Janeiro estava sempre presente quando se falava do seu nome.

Passado um ano, os processos em tribunal deram-lhe visibilidade e mantiveram o seu nome na comunicação social. Trump venceu e convenceu. As explicações dadas por “especialistas” sobre as razões da vitória são tantas e o meu conhecimento sobre o tema é tão limitado que nem me atrevo a acrescentar nada a esse respeito.

Constato apenas três factos que me parecem relevantes sobre estas eleições:

1 – Trump continua a contestar a validade dos resultados de 2020, mas nunca conseguiu provar nenhuma irregularidade e perdeu as ações que colocou em tribunal. Quem o critica nunca se preocupou com a falibilidade do controlo das votações nos EUA, apesar de ele ter razão para desconfiar do resultado.

Isto vê-se por 69% dos democratas no colégio eleitoral que elegeu Biden serem de estados que não exigem qualquer identificação para votar – no caso dos republicanos foram apenas 2% – ou no aumento extraordinário do número de votos democratas, de 65 milhões, em 2016, para 81 milhões de votos, quando nunca nenhum candidato dos dois partidos tinha alcançado 70 milhões.

Trump aprendeu e em 2024 mobilizou mais de 200 mil voluntários para controlar a contagem de votos. Resta saber o que é que vai fazer para que em futuras eleições não haja razões para qualquer candidato desconfiar dos resultados.

2 – Trump abordou temas relevantes durante a campanha e se cumprir o que prometeu, os EUA ficarão melhor do que estão agora. O nível de vida, o custo da energia, a imigração ou o fanatismo progressista estão entre os temas importantes, tanto nos EUA como na Europa. Mas ao contrário do que acontece com Trump, na Europa prefere abordar-se as eleições norte-americanas com base em assuntos que são pouco relevantes para os eleitores, como as relações internacionais, a Ucrânia ou Israel.

É uma demonstração do desfasamento que os europeus têm da realidade. Como consideram estes temas relevantes, também acham que os eleitores norte-americanos os acham importantes. A Europa deixou de ser o centro do Mundo e deve comportar-se com base no que é e não no que ainda julga ser.

3 – Trump foi atacado por toda a comunicação social ao longo dos meses da campanha. Não foi apenas nos EUA pelas CNNs e os NYTimes. Foi também pela comunicação social europeia. Independentemente das razões que haja para o criticar, o papel da comunicação social é noticiar e não opinar. Infelizmente há muitos jornalistas que preferem fingir não perceber a diferença. Pior ainda, a distorção da realidade de que se acusa as redes sociais tornou-se normal na imprensa nacional e internacional.

O caso do Iowa e da sondagem miraculosa que dois dias antes das eleições dava 3 pontos percentuais de vantagem a Kamala é um exemplo. No mesmo dia saiu outra sondagem que dava a mesma vantagem a Trump e que toda a imprensa propositadamente ignorou. E dois dias depois Trump ganhou com 13 p.p. de diferença. O pior resultado das eleições foi a perda de credibilidade do jornalismo.

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