A situação no Reino Unido, em que as pessoas que rezam em silêncio junto de clínicas de aborto são criminalizadas, “é muito preocupante” segundo o Constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia na sessão de apresentação do relatório da Fundação AIS “Perseguidos e Esquecidos?”, esta quinta-feira, em Lisboa.
Jorge Bacelar Gouveia, Constitucionalista, dá como exemplo de perseguição religiosa no continente europeu a Finlândia, em que uma deputada terá sido alvo de perseguição por ter feito referências à Bíblia, e o Reino Unido onde “as pessoas que querem rezar em silêncio junto a clínicas de aborto são criminalizadas”. Afirma que “querem criminalizar o pensamento!”.
“O laicismo não é ‘burro’ e tem muitas formas de promover a perseguição religiosa”, disse, o docente em Direito Constitucional e Direito Internacional Público da Universidade Autónoma, Jorge Bacelar Gouveia. Embora grande parte da sua intervenção tenha sido dedicada à situação em África, continente que, segundo o Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, se transformou na região do globo onde a violência jihadista contra os cristãos é agora mais intensa, Bacelar Gouveia não deixou de falar da Europa, do risco crescente de uma sociedade que se está a deixar tomar “a passos largos” por um “laicismo dominante”.
Perante esta situação, Bacelar Gouveia deixa um desafio: “Cabe a cada um de nós fazer a sua parte”.
O evento contou ainda com a presença de um sacerdote do Burquina Fasso. “Os terroristas estão decididos a acabar connosco”, alertou o Padre Jacques Swadogo.
SILÊNCIO INCOMPREENSÍVEL
Convidado pela Fundação AIS para a apresentação do Relatório sobre a perseguição aos cristãos no mundo, o professor destacou a importância do documento, recomendou a sua leitura atenta assim como ao relatório igualmente produzido pela AIS sobre a perseguição religiosa no mundo. Ambos, disse, ajudam a compreender como vai o planeta no que diz respeito a este direito humano tão importante e simultaneamente tão negligenciado.
E levantou várias questões. Referiu o silêncio, que diz “incompreensível”, da comunicação social sobre a maior parte dos factos apresentados nestes relatórios: “ninguém parece preocupado com a questão da liberdade religiosa”. E falou da urgência de haver um “tratado que obrigue os países a implementar medidas” que defendam os crentes, medidas que terão de ir mais longe do que a “mera declaração das Nações Unidas”, em que a questão é abordada no famoso artigo décimo oitavo.
Bacelar Gouveia fez ainda uma abordagem à situação que se vive em África, denunciada no Relatório da Fundação AIS, como estando “a piorar” por causa da “militância islamita” que tem vindo a “emergir como o principal motivo de preocupação”.
O documento explica que os cristãos não são as únicas vítimas dos conflitos armados nestas regiões, com especial predominância na África Subsariana, “mas tendem a ser desproporcionadamente visados pelos militantes”.
Para o constitucionalista, isto explicar-se-á se olharmos para a história africana e o seu passado colonial. “Atacar a religião de um país que foi ocupado por uma potência europeia pode ser visto como uma tentativa de reparação histórica”, disse.
“IGREJAS QUEIMADAS, PADRES ATACADOS…”
A sessão contou ainda com o testemunho do Padre Jacques Sawadogo. Este sacerdote, oriundo do Burquina Fasso, descreveu como é difícil, por vezes mesmo impossível, a vida dos cristãos no seu país, dizendo de viva-voz aquilo que está descrito no relatório da Fundação AIS. A ameaça terrorista, que se tem acentuado desde há cerca de uma década, coloca hoje um desafio vital para a própria sobrevivência da comunidade cristã.
“Desde há 10 anos que estamos a experimentar o terrorismo no nosso país. A Igreja é um dos alvos. Mais de sete dioceses do Burquina Fasso têm problemas com os terroristas, as igrejas são queimadas, os padres são atacados e raptados”, relatou o sacerdote. Tal como o professor Bacelar Gouveia, também o Padre Sawadogo apontou críticas para a comunicação social que, na sua esmagadora maioria, ignora esta realidade.
“É muito raro ouvir falar disto. Os ‘media’ muito raramente falam sobre o que se passa no meu país. Por isso, muito obrigado por esta oportunidade para falar disto”, disse, acrescentando que “os terroristas estão decididos mesmo a acabar connosco, porque para eles nós somos infiéis”.