Foucault. Biopoder ou o controlo da população pelos estados

Susana Mexia

Michel Foucault no limiar da sua obra, nos finais da década de setenta do século XX, utilizou o conceito de “Biopolítica”, na gestão da biologia nos cálculos e nos mecanismos de controlo da população pelo estado, como uma nova forma de “poder devolver à morte ou causar a vida”, valorizando primordialmente a existência do homem como força de trabalho, isto é, de produção e de valor económico.

Paul-Michel Foucault nasceu no dia 15 de outubro de 1926, em Poitiers, França, descendente de cirurgiões, o que revela bem como a medicina sempre esteve presente na sua educação e formação. Porém, o jovem passou a interessar-se mais pelas humanidades, nomeadamente história e filosofia, a contragosto do pai, com o qual a sua relação não era a melhor, contando, porém, com o apoio de sua mãe, por quem o filósofo nutria uma relação extraordinariamente afectuosa.

Foucault iniciou os seus estudos de Filosofia, em Paris, na École Normale da Rue d’Ulm, no ano de 1946. A sua personalidade introspectiva foi-se acentuando ao longo deste tempo, recusando cada vez mais o contacto com os colegas. Fez uma tentativa de suicídio pela primeira vez em 1948, passando a ser acompanhado regularmente com avaliações psiquiátricas. Uma das causas desta atitude terá sido a constatação da sua homossexualidade, ainda em fase de descoberta e com a inerente dificuldade de aceitação de si mesmo.

No ano de 1948, licenciou-se em Filosofia e, no ano seguinte, em Psicologia. Tornou-se assistente na Universidade de Lille e terminou o curso de Psicologia Patológica, em 1952. Lecionou e proferiu conferências e palestras em diversas universidades na França, Alemanha, Estados Unidos e Suíça e na Universidade de São Paulo (USP), em 1965 e 1975.

Em 1968, Foucault, assim como Deleuze, Marcuse, Sartre e tantos outros professores universitários, envolveu-se na luta estudantil deflagrada no mês de maio desse ano em França. Publicou vários livros, porém a morte derivada de complicações causadas pela sida, arrebatou-o aos 57 anos de idade.

Amado por uns e odiado por outros, Foucault foi um dos filósofos muito aclamados do século XX. Influenciado por Marx, Freud, Bachelard, Lacan, Heidegger, Nietzsche, Blanchot, Sade e Kafka, entre outros, foi Friedrich Nietzsche o maior modelador do seu pensamento. Foucault, curiosamente, nasceu no mesmo dia que Friederich Nietzsche.

Michel Foucault nos finais da década de setenta do século XX, utilizou o conceito de “Biopolítica”, na gestão da biologia nos cálculos e nos mecanismos de controlo da população pelo estado.

Michel Foucault no limiar da sua obra, nos finais da década de setenta do século XX, utilizou o conceito de “Biopolítica”, na gestão da biologia nos cálculos e nos mecanismos de controlo da população pelo estado, como uma nova forma de “poder devolver à morte ou causar a vida”, valorizando primordialmente a existência do homem como força de trabalho, isto é, de produção e de valor económico.

O desenvolvimento do poder é uma forma de conduzir a vida, de regular as populações devidamente disciplinadas, cuidando da sua saúde, higiene, reprodução, trabalho e produção, segundo os interesses do poder político.

Neste contexto, uma vida só é útil enquanto for sã, produtiva e dócil, ou seja, medicalizada e disciplinarizada, quando o seu valor for a utilidade na produtividade (Michel Foucault, Microfísica do Poder).
Deste modo, torna-se possível legitimar a morte do “outro”, do doente, do degenerado, do anormal, do que já não serve, para que a sociedade fique mais limpa, mais saudável, mais sadia e mais pura.

Ao Estado é incumbida a função “assassina” através do biopoder, com pretenso recurso a legislação adequada que o converte em tanatopolítico ( política para matar, de luvas brancas e de forma asséptica) sobre as multidões confusas, seres humanos que lentamente foram sendo adestrados por políticas de saúde, de alimentação, de educação sexual, de controlo de natalidade, de sucessivos atropelos à família, ao casamento, aos valores e à dignidade do ser humano.

Quando nos Parlamentos é discutida a vida humana, o seu princípio e o seu fim, os custos que acarretam, os encargos a que obrigam, torna-se premente pensar e agir sobre o futuro da humanidade, dentro destes contextos políticos, económicos e sociais.

Exaltar os animais e empobrecer os seres humanos reduzindo-os a simplesmente “humanos”, acenando ao mesmo tempo com a miragem do homem robôt ou transhumano, é verdadeiramente uma engenharia genética de cariz malévolo, maquiavélico e perverso.

Recordemos que o valor do Homem não lhe é dado pelos outros homens, não é uma mera questão de quantidade ou qualidade e, não pode, nem deve, ficar pendente de teorias filosóficas, manobras políticas, de opiniões relativistas, subjectivas, ideológicas ou partidárias.

A dignidade é uma característica inerente ao ser humano, sendo inata é-lhe ontologicamente anterior e superior, ultrapassando-o. Em consequência é reconhecida ao Homem uma dimensão que o coloca acima de outras realidades, lhe dá a primazia de ser uma Pessoa e o distingue dos outros seres vivos.

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