Podcast Justiça às Cegas. Caso Joana: Perseguição através de cibercrime e gaslight

Marta Roque

A perseguição informática arrasta-se desde o tempo da vida conjugal de Joana, nome fictício, mãe de vários filhos. Entrada nas redes sociais, criação de perfis falsos, mensagens escritas no telemóvel com ameaças, e a colocação de um air tag no carro, dispositivo de localização, são algumas das estratégias utilizadas pelo seu ex-marido para a controlar. Gaslighting, forma de levar o outro a pensar que é culpado, é outra das estratégias de manipulação utilizada neste caso.

Daniela Cosme Psicóloga clínica e psicoterapeuta considera que os tribunais ainda não estão a acompanhar estes novos casos de cibercrime, diz que “é necessário acompanhar as novas situações de maus tratos psicológicos e sem sangue.”

O Processo de violência domestica, com maus tratos físicos, psicológicos e verbal, surge com a perseguição na internet, através das redes sociais.  Joana fez denuncia há 4 anos, mas o processo ainda decorre em tribunal para apurar o culpado, conta ao Podcast Justiça às Cegas.

O primeiro processo de cibercrime foi arquivado com base em que estava a ser usada a mesma conta da Google. Joana mudou de dispositivo móvel e de e-mail, criou novas redes sociais para não ser controlada, mas a abertura de sessões em outras zonas do pais continua.

O ex-marido foi constituído arguido, foram feitas muitas denuncias para avançar a investigação. Joana revela que “é uma angústia tremenda de receber mensagens de ameaças.” Nunca foram colocadas medidas de coação ao ex-marido. “O meu circuito é muito limitado. A pessoa vive com medo e insegurança, mas tem que manter a cabeça alinhada no trabalho e com filhos,” diz Joana ao Podcast Justiça às Cegas.

As denúncias foram feitas na GNR e PSP. Posteriormente, Joana foi chamada pela Policia Judiciária para depoimentos, quer pela violência domestica, quer pelos crimes informáticos. “A sensação que tinha na PJ era que apesar de darem crédito ao que estava a dizer a situação arrastava-se no tempo.”
A PJ confirmou que tinha um air tag no carro, um dispositivo de localização, que tem o intuito de encontrar algum utensílio, “mas foi colocado no carro por alguém.”

Recebeu notificação no telemóvel que tinha um dispositivo que sabia da minha localização. “Fotografei e denunciei”. A PJ confirmou o air tag que rastreava as suas deslocações.

“Através de uma aplicação descobri que o air tag estaria dentro da tubagem do carro”. Joana acabou por ficar sem carro e nunca se encontrou o dispositivo para chegar ao nome do culpado.

O 1º processo foi arquivado: a conta google era comum
Joana comprou novo dispositivo, só se liga à internet através de dados móveis, no entanto a situação voltou ao mesmo. “A perseguição informática está num nível que não consegue detectar”, justifica.

Joana chegou a contactar o Facebook e com a ajuda de um informático colocou seguranças nas redes socais, ainda assim descobriu que as suas contas das redes sociais foram novamente abertas no local onde se encontra o antigo parceiro.

Desistir de redes sociais?
“Temos de lutar pela nossa liberdade. O único uso que dou às redes sociais é para área profissional, nunca publico nada pessoal. Num mundo guiado pela internet, tenho direito a fazê-lo,” afirma Joana.

A perseguição no ciber espaço ainda ocorre depois do divórcio, Joana considera que este é um problema do “foro psiquiátrico, ele quer tentar destruir quem sou como pessoa. Continuas a ser minha, e tenho poder sobre ti. É uma forma de Gaslight,  levar o outro a pensar que está errado. É uma manipulação grande de quem pratica.”

Ainda não pediu ao tribunal para avançar com avaliação forense, que perante esta situação é o passo seguinte.

Joana aconselha a quem sofrer perseguição manter a cabeça no sítio, porque são “processos prolongados que deixam marcas, são situações de stress pós-traumáticos, cada vez que há um gatilho: respondemos como quando estamos a ser agredidas.”
E “ter esperança que tudo se vai resolver pelo melhor,” conclui.

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Nuno Lumbrales,
Advogado

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