O Coração como Centro do Corpo

Ricardo Formigo, Professor de Português

Este mês de junho – já prestes a terminar – não foram poucas as festas que a Igreja celebrou. Em primeiro lugar, todo o mês foi marcado pela tónica do Sagrado Coração de Jesus, solenidade que celebrámos na sexta-feira passada, dia 27.

O amor de Deus, levado até ao sacrifício de Jesus Cristo na cruz por amor, é o grau máximo de amor. Como não podia deixar de ser no Cristianismo, ao lado de Jesus está sempre Maria: no sábado, dia 28, celebrámos a solenidade do Imaculado Coração de Maria. Particularmente significativo é também o facto de o dia a seguir ter sido 29 de junho, o dia em que a Igreja assinala o martírio de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos, e de São Paulo, doutor das gentes. Mais uma vez, a ordem e a unidade são manifestas.

Ainda no mês de junho, no dia 19, celebrámos a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus, festa móvel que se celebra 60 dias após o Domingo de Páscoa. Não é de menosprezar o facto de que, em virtude da data da Páscoa, se tenha celebrado o corpo de Cristo no mesmo mês do Coração de Cristo. Porque toda a Igreja é um só corpo. É isso que nos diz a liturgia, a Sagrada Escritura e a tradição, dos padres da Igreja ao magistério dos Papas, dos princípios do Cristianismo até hoje. Todos somos um só em Cristo, sob o magistério do Papa. Como dizia São Josemaría Escrivá, «Oferece a oração, a expiação e a ação por esta finalidade: “Ut sint unum!” – para que todos os cristãos tenhamos uma mesma vontade, um mesmo coração, um mesmo espírito: para que “omnes cum Petro ad Iesum per Mariam!” – que todos, bem unidos ao Papa, vamos a Jesus, por Maria.»

“Procissão do Corpo de Deus em Lisboa, 19 de junho de 2025”. Créditos da fotografia: Pedro Marques Pereira.

O Papa é o sucessor do apóstolo Pedro, os bispos de cada diocese do mundo são os sucessores dos demais apóstolos. Em obediência aos bispos, os sacerdotes, diocesanos ou de alguma congregação ou instituto de vida apostólica, obedecem e colaboram com o bispo local. Na Procissão de Corpo de Deus na cidade de Lisboa isto é particularmente significativo e evidente. Temos o Patriarca de Lisboa (bispo) que leva a custódia em procissão pelas ruas de Lisboa, precedido dos bispos auxiliares, cónegos, monsenhores, párocos e demais sacerdotes, diáconos, seminaristas e acólitos, todos devidamente paramentados e ordenados; também os leigos, religiosos, religiosas, as várias irmandades e ordens militares, o santo povo de Deus. A ordem da Igreja é esta e não outra. A unidade acolhe-se como um dom de Deus, pela obediência aos pastores. Ou se está dentro ou se está fora.

A Igreja é um corpo que tem o seu coração em Jesus. Celebrar o Corpo de Cristo no mês do Coração de Cristo é tomar consciência de que somos um só, por muitas divergências e temperamentos diferentes que haja na variedade de carismas da Igreja. De facto, a unidade da Igreja foi um dos últimos pedidos de Jesus ao Pai, antes da Paixão, na noite em que foi entregue. O Espírito Santo, derramado por Deus, mantém a Igreja unida há mais de dois mil anos. Só a liberdade do homem, conscientemente executada, pode negar o dom da unidade.

Como dizia o saudoso Padre João Seabra na homilia da missa por ocasião dos seus 40 anos de ordenação sacerdotal em 2018: «A Igreja existe para que Cristo se possa encontrar com cada homem, para que cada homem se possa encontrar com Cristo. Existe para isso, e nada mais. A Igreja não existe para si própria. A Igreja existe para que o homem e Cristo possam caminhar juntos na vida de cada um. O caminho da Igreja é o coração do homem. E o caminho do homem é Cristo.»

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Nuno Lumbrales,
Advogado

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