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TAP – um espelho da governação

Nuno Melo, Presidente do CDS, Eurodeputado

Agora, depois de gastos mais de 3,2 mil milhões de euros de impostos dos contribuintes, naquele que foi o devaneio ideológico mais caro da democracia portuguesa, decidiu reprivatizar a companhia outra vez. Para além da demonstração de que socialismo tem horror a contas certas, a novela em que este processo se transformou é simplesmente surreal.

O presidente da República vetou o diploma de privatização da TAP, pedindo ao Governo “esclarecimentos complementares”. Convirá recordar que a decisão surgiu 6 meses depois de uma demissão encenada do ministro das Infraestruturas e da declaração do chefe de Estado acusando João Galamba de ser responsável por “situações rocambolescas, muito bizarras, inadmissíveis ou deploráveis”,  de ter argumentado em público sobre declarações de um subordinado e “revelado pormenores do funcionamento interno, incluindo referências a outros membros do Governo”, acrescendo uma intervenção do SIS à margem da lei e da Constituição.

Ao tempo, António Costa assumiu uma fractura com o presidente da República, não aceitando a demissão de Galamba e recordando que “cabe ao primeiro-ministro – apenas e só – a decisão de demitir ministros”. Será verdade. Mas o veto do presidente da República, também ajuda a perceber que o assunto nunca ficou ultrapassado.

Dito isto, a TAP é uma expressão lapidar da incompetência e das contradições de um governo, mais notado pela sucessão permanente de casos e demissões, do que pela resolução dos problemas.

Quando em 2015 o governo da coligação PSD/CDS decidiu privatizar a empresa, que teria de operar no mercado em base concorrencial, António Costa, na oposição, contestou a “teimosia” do governo. Depois, já primeiro-ministro na geringonça, anunciou a reversão em 6 de fevereiro de 2016, porque a TAP era tão importante para o Estado, como as caravelas do tempo dos descobrimentos.

Agora, depois de gastos mais de 3,2 mil milhões de euros de impostos dos contribuintes, naquele que foi o devaneio ideológico mais caro da democracia portuguesa, decidiu reprivatizar a companhia outra vez. Para além da demonstração de que socialismo tem horror a contas certas, a novela em que este processo se transformou é simplesmente surreal.

Deste recente, curto e caro tempo de participação maioritária do Estado na TAP, guardaremos na memória uma administração que funcionou como uma espécie de oásis, à margem da realidade difícil do país e da própria empresa, com indemnizações de meio milhão de euros decididas por SMS de um governante, depois acometido de surto amnésico, revelador do rigor com que o socialismo utiliza os parcos recursos.

Quando as coisas se passam com tamanha leviandade, é obviamente importante que o presidente da República queira ver clarificada a capacidade de acompanhamento e intervenção do Estado na TAP, a questão da alienação ou aquisição de ativos e a transparência de toda a operação. Na verdade, é o mínimo.
Fique também a certeza, de que para quem paga impostos, os problemas estão muito longe de ter terminado.

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