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Quem vota, decide

Maria Antónia Almeida Santos, Deputada do Partido Socialista

O afastamento entre os cidadãos e o voto não é saudável para a democracia. Ainda mais agora que se vê novamente confrontada com o fantasma do populismo e do radicalismo de direita. Uma das estratégias mais recentes do mesmo é o disfarce sob a pele da normalização, como temos vindo a assistir na presente campanha legislativa.

Quem vota, participa. Logo, decide. Quem não vota, participa apenas – e por ausência – na decisão de não decidir. O mundo não é feito só de complexidades e de grandes questões. É também feito de coisas simples. Uma delas é o ato de votar. Neste sentido, devemos entendê-lo também como algo natural. Apesar da simplicidade desta realidade prática, é impossível ignorar a evolução (negativa) da abstenção em contexto democrático.

O afastamento entre os cidadãos e o voto não é saudável para a democracia. Ainda mais agora que se vê novamente confrontada com o fantasma do populismo e do radicalismo de direita. Uma das estratégias mais recentes do mesmo é o disfarce sob a pele da normalização, como temos vindo a assistir na presente campanha legislativa.

Seja em Portugal, seja no contexto europeu ou mundial, a desvinculação gradual entre eleitor e voto só reforça a necessidade de apostar nos cidadãos e em políticas promotoras da igualdade, da tolerância e da coesão.

É cada vez mais importante também apelar a uma atitude didática – a nível das instituições e não só – perante a imagem da democracia e dos valores que lhe servem de base. A memória desses valores, ao longo do tempo, por vezes, ao esbater-se, torna-se quase como que desvalorizada.

Medidas como o voto antecipado em mobilidade, o fim do número de eleitor, boletins de voto em braille, o recenseamento automático para quem reside no estrangeiro e não só, têm-se revelado úteis. Mas será que bastam? Infelizmente, não. É preciso cimentar a memória da democracia, do 25 de Abril, da tolerância e da paz. Foi preciso haver liberdade para haver voto.

Se a democracia é, de facto, um projeto de todos e para todos, é impossível concretizá-lo apenas com alguns e para esses alguns. Nesta questão, recordo-me sempre de um slogan de combate à abstenção, já bastante antigo, numas eleições autárquicas, em Portugal: “Nestas eleições, quer um bom concelho? Vote!”.

Ao lado do trocadilho conselho/concelho, está uma verdade que devia ser óbvia: o voto é bom, é cada vez mais simples, é gratuito e, politicamente, é do mais correto e saudável que há. Ou, melhor ainda, para usar uma expressão jovem cada vez mais antiga: é fixe.

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