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Alexandra Tavares de Moura: “Se olharmos para os dados: homens escolhem homens”. C/ Vídeocast

Marta Roque

O casamento dos pais na prisão de Caxias estimulou Alexandra Tavares de Moura a ingressar na vida política, conta a autarca socialista em exclusivo no vídeocast “Mulheres Reais”.

A Secretária Nacional das Mulheres Socialistas – Igualdade e Direitos (MS-ID) revela que o aumento de Mulheres Socialistas deve-se à “capacitação” que tem sido feita em ações de formação, com base em debates temáticos “à luz da lente de género”.

É deputada no município de Câmara de Oeiras pelo PS, foi deputada à Assembleia da República na XIV e XV legislaturas pelo Partido Socialista, é mestre em Gestão de Recursos Humanos, e pós-graduada em Igualdade de Género (ISCSP). Tem especialização de Liderança Executiva a Administração Pública (Nova School of Business & Economics). É Diretora de serviços de gestão académica e formação na Escola Superior de Enfermagem.

Exerce atividade política autárquica e cívica antes do nascimento dos filhos, não parou com a vida política mesmo quando foi mãe, apesar da sua disponibilidade ir mudando com o crescimento dos filhos. Também a vida profissional nunca a condicionou, tentou gerir as tês atividades ( profissional, política e familiar) de forma a coexistirem. “Existia o peso da culpa, mas dizia sempre aos meus filhos que ia para a vida política, muitas vezes à noite. Isto tem a ver com o facto de os partidos serem geridos por homens. Claro, que isso tem impacto na nossa vida, no descanso e na vida profissional.”

Acredita que a formação é a “porta de abertura para o mundo profissional” começou a trabalhar como dirigente na Câmara de Odivelas, e desde então foram surgindo oportunidades com esta função, a dado momento teve de fazer a opção de ser psicóloga ou ser profissional como dirigente.

O “fascínio” pela Educação

Admite que o fascínio que tem pela área da Educação e pela vida política “é culpa dos meus pais”, como escreveu a socialista em artigo de opinião nas comemorações do 25 de abril no Estado com Arte Magazine . A mãe teve muita influência no seu percurso profissional. Alexandra Tavares de Moura acompanhava a mãe nas férias da adolescência em ações de formação sobre o papel educativo da família, toxicodependências, a alimentação, quando estes assuntos foram debatidos para entrarem nos curricula educativos do ensino básico. O pensamento da mãe acabou por condicionar a sua escolha de vida. “O gosto pela educação, direitos humanos e igualdade de género tem muito que ver com a minha mãe.”

História de amor dos pais na prisão

 

Os pais foram resistentes na altura do antigo regime, apaixonaram-se “algures nas lutas estudantis”. O pai estava na tropa, fazia divulgação de panfletos, uma atividade clandestina,  pertencia a alguns movimentos partidários contra o regime como o PCP e o MDP. A dada altura um grupo de 31 pessoas foram presos entre 19 e 21 de janeiro de 1965. Mário Lino, Crisóstomo Teixeira, Sara Amâncio faziam parte deste grupo de estudantes detidos pela PIDE.

“A minha mãe não podia visitá-lo. Como se esperava que fosse transferido de Aljube para Caxias fez um pedido de casamento. Houve mais casais nestas circunstâncias, mas não são muitos em Portugal.” O pai estudava engenharia no Instituto Superior Técnico, casaram em Caxias.

Natalina Moura, mãe de Alexandra Tavares de Moura, com as amigas e companheiras de luta no dia do casamento na prisão de Caxias

Natalina Moura queria que Maria Barroso fosse sua madrinha que lhe respondeu para “convidar antes as namoradas que estão na prisão do teu noivo. Para que elas pudessem também vê-los. A minha mãe quando descia acompanhada das suas madrinhas os presos cantaram-lhe “A noiva vai linda”. Ficou como marca no dia do casamento”, comenta.

“É óbvio que se transporta para o longo da vida. Isto passou para nós de forma endémica,” Alexandra Tavares de Moura recorda a memória da família.

 

 

Cadeia de Caxias – a repressão fascista e a luta da liberdade”, uma publicação da União dos Resistentes Anti-Fascistas Portugueses

O livro “Cadeia de Caxias – a repressão fascista e a luta da liberdade” que regista estes acontecimentos é uma publicação da União dos Resistentes Anti-Fascistas Portugueses que conta com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras.

O registo documental dá a conhecer a história de alguns dos presos e a lista dos 10 000 presos pela PIDE na prisão de Caxias entre 1936 e 1974. São algumas histórias contadas na primeira pessoa.

A criação de estruturas que “servem de empoderamento”

Apesar da quebra de mulheres deputadas desde as eleições legislativas de 2022, o PS tem conseguido aumentar militantes ativas no partido, segundo ATM existe uma preocupação com “a fixação da taxa de permanência de mulheres ativas no PS.

O Departamento Nacional das Mulheres Socialistas deu lugar às estruturas das Federações e Concelhias de Mulheres Socialistas ( MS). “Foi introduzido nos estatutos a possibilidade da criação de Concelhias e Federações de mulheres no PS, para que esse palco fosse de empoderamento das mulheres e ligado às políticas locais, coordenado com as mulheres socialistas com o objetivo de fazer debates, e manifestos”.

As mulheres vão à procura de votar em mulheres para fazerem parte das listas, compostas apenas por mulheres e são elas que votam nestas listas, explica. A capacitação tem sido feita em ações de formação, mas com base também nos debates. As MS fazem debates às 18.30h, as “Conversas com” acontecem depois do trabalho, o que revela uma diferença da organização relativamente às organizações dos homens, diz ATM.

Os debates podem trazer para o terreno o olhar para temas de coesão social ou mobilidade à luz da lente de género, dá como exemplo: “por que é que as paragens de autocarro devem ter mais luz? Dar mais segurança à mulher.”

Houve apenas 2 listas com mulheres cabeça de lista mas não ganharam. “Se olharmos para os dados, os homens escolhem homens. É a grande dificuldade que temos, são barreiras invisíveis. A sucessão vai-se preparando. A passagem dos papéis faz-se em sucessão. Estamos a fazer um caminho, que pelos números demonstra-se factual, está a acontecer.”

Das candidaturas às estruturas federativas, que tiveram eleições no início de novembro, Alexandra Tavares de Moura questiona “quantas tem 60% de género feminino e 40% de género masculino?. As listas têm de ser paritárias, têm de ser 50/50″, conclui a socialista.

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