Quando o bebé nasce, a aventura começa… uma aventura emocional, familiar, hormonal, laboral… Parece que não é só o bebé que nasce… naquele momento são 3 novas vidas que nascem. A vida do bebé, a nova vida do (e) pai e a nova vida da (e) mãe.
Dia 25 de dezembro celebra-se o nascimento do Menino Jesus, é Natal! Dia de celebração e alegria, troca de presentes e momento de estar em família. Mas para muitas famílias este ano foi Natal antes, com a vinda do seu menino ou menina a este mundo!
Foi o que aconteceu comigo. Foi no dia 11 de fevereiro de 2024 que aconteceu um momento único e inesquecível na minha família. Nascia o meu primogénito, às 17 horas. Foi um momento de imensa felicidade e alegria, um momento tão transcendente que até as simples matemáticas falham: 1+1= 3!
O Dinis foi um bebé muito desejado. Tanto eu como a mãe queríamos muito ser pais. Mas a chegada de um ser tão pequeno e indefeso é sempre um momento impactante além de ser um momento de extrema ansiedade. Antes do bebé nascer, temos de preparar tudo para a sua chegada. É o quarto, é a roupinha, é a casa que tem de estar preparada e acolhedora… infelizmente no nosso país, também ainda antes da criança nascer tem de se ir procurar uma creche… a continuar a este ritmo, ainda quando o bebé é um projeto o melhor é começar logo a procurar um infantário.
Depois temos a pressão da família, dos amigos sempre a perguntar como está tudo, se estamos ansiosos (que pergunta!!), se precisamos de ajuda, que vai tudo correr bem, que é o momento mais feliz da nossa vida (e é, claro, mas também é um momento de entrada no desconhecido e em que a nossa vida muda completamente…)
Quando o bebé nasce, a aventura começa… uma aventura emocional, familiar, hormonal, laboral… Parece que não é só o bebé que nasce… naquele momento são 3 novas vidas que nascem. A vida do bebé, a nova vida do(e) pai e a nova vida da(e) mãe. No momento que recebemos em braços aquele ser indefeso, surge-nos a dúvida, a incerteza, se realmente estamos a fazer bem as coisas… e nesse momento a mãe está com as hormonas completamente desreguladas, dores do pós-parto, sem dormir, sem comer e começa logo o que para muitas é um dos grandes desafios (e pesadelos…) da maternidade: a amamentação!
O bebé tem de ser alimentado e começa logo nos primeiros minutos de vida. E são nesses primeiros minutos de vida que o stress da mãe começa a atingir níveis patológicos: Será que o bebé consegue mamar bem? Consegue fazer uma boa pega? Será que tenho leite suficiente? Será que ele vai passar fome? Opá, para a Instagrammer X parece que o dar de mamar é muito fácil, mas o meu bebé não pára quieto e não consegue agarrar-se à mama? SERÁ que sou boa mãe?
E esta pergunta, que já se estava a formar na cabeça da mãe antes do bebé nascer, explode de repente naqueles primeiros minutos de vida. A mãe está completamente assoberbada, é o bebé, são as hormonas, são as dores, são os médicos e os enfermeiros de volta dela… é o bebé que não mama, ou que mama tanto que ela não pode/consegue dormir… a mãe já não sabe em que planeta vive… Mesmo contando com a ajuda do marido, essas primeiras horas são únicas, arrebatadoras, assustadoras. É um misto de emoções, felicidade, alegria, medo angústia, stress. E quando se pensa que não pode piorar, chegam as visitas!
A família toda do lado do pai, os amigos, os conhecidos, a família do lado da mãe, os amigos da aldeia, os amigos da cidade, os amigos estrangeiros… de repente o quarto de hospital fica mais lotado que a Lux num sábado à noite! E o barulho e a confusão não são tao diferentes do da Lux… A mãe do bebé já de si numa situação complicada, sem dormir e cheia de dores, a necessitar de paz e sossego fica rodeada de gente por todo o lado. Claro que adoramos as visitas, as pessoas estão desejosas de conhecer o bebé e é um momento de partilha de alegria e felicidade, mas muitas vezes pode chegar a ser um pouco exagerado.
E sobretudo extenuante!! Tanta gente a entrar e sair do quarto da maternidade, tanta pressão para conseguir amamentar, a recuperação de uma cesariana, as dores, as noites sem dormir, a exaustão física e emocional, a febre do leite a subir …Pouco depois de todo o esforço e sofrimento muitas vezes o que os pais necessitam é de algum descanso. Aqueles momentos iniciais de conexão com o bebe exigem um ambiente de paz e tranquilidade, que é o oposto do que verdadeiramente vivenciamos.
Deixamos de ser o José e a Iolanda e passamos a ser o pai e a mãe… Já ninguém pergunta como estão os pais, agora o bebé é o centro de todas as atenções… Mas tanto a mãe como o pai continuam a ser pessoas, pessoas diferentes agora com a vida do avesso, mas pessoas que também passam por dificuldades e ainda mais agora. Continua a ser bom ouvir perguntarem como estamos, como passámos o dia, como nos sentimos. O bebé agora é o centro da nossa vida, mas há que referir que não é toda a nossa vida. Continuamos a ter as nossas profissões (mesmo que algumas em standby), as nossas preocupações, as nossas amizades, as nossas lutas diárias. Afinal ainda continuamos a ser a Iolanda e o José, mesmo que todo o nosso tempo seja dedicado ao nosso bebé.
Chega o dia de voltar para casa. Mas como é que vamos deixar o hospital, com enfermeiros, técnicos, médicos a tratar de nós e do bebé e passamos nós a tratar do bebé? Será que vou conseguir alimentá-lo? E dar-lhe banho?? Como se dá banho a um ser tao pequeno e frágil? A banheira é demasiado grande… Por mais cursos que se façam pré maternidade e na maternidade dar banho a um recém-nascido é SEMPRE um desafio. E se ele engole água? Como é que se segura num recém-nascido? Qual a temperatura certa da água? A água está muito fria? Muito quente? Qual o shampoo?? Devemos usar shampoo?? E se vai água para os olhos?
EU QUERO VOLTAR PARA A MATERNIDADE
O primeiro mês em casa com o recém-nascido é uma prova de fogo. Uma prova de fogo para a mãe, para o pai, para a saúde mental de todos, para a relação e para o crescimento da família. Noites sem dormir (andamos há meses sem dormir…), o bebé a chorar e sem sabermos porque, todo o dia fechados em casa… abre-se a internet e é tudo alegria, felicidade com o novo bebé. Há até quem vá o cinema e leve o recém-nascido… ao CINEMA! Se ele mamasse tranquilo já era uma sorte.
Nas redes sociais tudo é facilidades, os bebés parece que já nascem ensinados. Todos são amamentados com leite materno, nenhum com biberão. Mas o bebé continua sem querer/conseguir mamar da mama e lá vamos buscar o biberão! A mãe sente-se mal, muito mal… sente-se menos mãe por ter de usar um biberão para alimentar o seu bebé! Mas ele não se calava com fome. Por todo o lado ouve-se que dar o leite materno é que é essencial, a mensagem subliminar é que dar o biberão torna-te uma mãe menos boa (para não dizer uma herege no que toca a ser mãe e ao cuidado do bebé). Mas tem de ser e assim a mãe a muito custo, lá dá o biberão ao bebé. O bebé ataca o biberão, esganado com a fome, e despeja os 90ml (porque não podem ser mais, senão dilatam o estomago do bebé!!! E ele será obeso…) num piscar de olhos. Acalma-se e adormece. Que paz… que descanso… mas um sentimento invade a mãe: eu dei-lhe o biberão, que raio de mãe sou eu? Porque não consigo dar a mama? Será que sou uma boa mãe?
Primeira consulta com o pediatra… a primeira coisa que nos diz é que tem de se despachar, que não tolera atrasos. Mostra-nos a agenda do dia, cheia de consultas, 20 de manhã e 20 à tarde. Mas como é que conseguimos chegar a algum lado a tempo e horas se temos um recém-nascido que tem de comer, preparar as coisas para sair e toda uma logística enorme? E no fim da consulta de 10min diz-nos que o bebé não está a crescer e a engordar o que deve e tem de ser alimentado por onde der. Refere para continuarmos a tentar a amamentação, dez minutos em cada mama e complementar com leite de fórmula. Que é uma aprendizagem para a mãe e para o bebé… Claro, ele que vá aprender a dar leite a um bebé irrequieto, esganado com a fome e que não pára quieto para fazer uma boa pega… E termina a consulta a dizer que tem muita pressa e tem de ir buscar o jaguar elétrico novo à oficina, pois estes carros elétricos são muito bonitos e caros, mas estão sempre a avariar. Escusado será dizer que nunca mais voltámos a este pediatra… A empatia não define a qualidade técnica de um médico, mas um pediatra nesta fase da vida do bebé, da mãe, da família, deveria pensar menos no jaguar elétrico e mais na situação daquela mãe que não consegue amamentar.
É nestas situações que o pai tem de tomar ação: dá-se o biberão e pronto. Ainda fomos falar com uma enfermeira especialista em amamentação, mas com um bebé assim esfomeado não dava. Assim pouco a pouco lá nos habituámos ao biberão. O papel do pai é fulcral, tem de ser o apoio emocional, proteger a mãe dos comentários e opiniões dos outros que nada têm a ver com a dinâmica familiar e apoiar incondicionalmente a mãe, se ela quiser dar leite materno, se quiser dar biberão, se quiser receber mais visitas, se quiser estar sozinha… o que a mãe passa, todas as transformações hormonais, corporais… o pai nem consegue imaginar. A mãe além de ter de cuidar daquela vida que saiu dentro dela, tem de lidar com as mudanças hormonais, com um corpo que passou por uma gravidez e que as influencers do Instagram dizem que após 1 semana tem de estar ainda melhor que antes da gravidez… mais em forma… tem de ser a mãe perfeita, a filha perfeita, a mulher perfeita, a esposa perfeita, a colaboradora perfeita, sabendo que a vida em si é um continuum de imperfeições.
E é por isso que mais de 30% das depressões em mulheres são diagnosticadas no peri e pós-parto. Os casos de psicose aumentam exponencialmente em mulheres grávidas e parturientes. E as mulheres que já têm doença mental são ainda um risco maior. Muitas têm uma certa estabilidade antes de engravidarem, mas depois de engravidar, devido às mudanças corporais, mas principalmente hormonais tendem a piorar. E ainda há muito aquela tendência de retirar todos os psicofármacos a mulheres que acabam de engravidar devido aos riscos para o feto. Se é verdade que existem medicamentos que podem afetar o desenvolvimento do bebé, existem outros que são praticamente inócuos e em que os benefícios de manter a estabilidade e saúde mental da mãe supera e em muito os riscos dos medicamentos.
Por tudo isto e por a saúde mental em Portugal ainda ser um tema difícil em Portugal que muitas mães sofrem e sofrem em silencio, sem ser compreendidas e sem o devido o apoio.
Da próxima vez que vir uma mãe com o seu bebé a passear descontraidamente, lembre-se que essa mãe e esse bebé estão a viver uma aventura que está só a começar e que não é nada fácil. Muitas vezes, por detrás de uma imagem de uma mãe perfeita, escondem-se inúmeras incertezas, medos e dúvidas. Porque para ser mãe perfeita no século XXI, com as redes sociais e a sermos bombardeados constantemente com a internet, é muito diferente de ser mãe perfeita no século passado.