Assim, o Natal assumiu (-me) uns quantos significados. O da intolerância, do silêncio, e do distanciamento. A estes juntei ainda o do consumismo, feira das vaidades e hipocrisia. Durante alguns anos, O Natal foi isto, um conjunto de idealizações decorrentes do afastamento progressivo entre eu e a religião.
Foi-me lançado o desafio de responder a esta pergunta. Penso que a resposta mais óbvia e também honesta é, de que não tem um significado definitivo.
Lembro-me de, em criança, escrever sobre isto na escola como parte de uma tarefa de aula ou mesmo de um teste com nota no final. Claro, não me lembro nada do que escrevi. À distância de mais de 40 anos, provavelmente terei escrito o que era esperado de mim, no contexto de uma escola e uma cultura católica.
Conforme os anos foram passando, o mesmo aconteceu com os meus valores e princípios. O Natal tornava-se paulatinamente num símbolo de discórdia de preceitos e rituais, entre um passado sem escolha e a teimosia da individualidade.
Assim, o Natal assumiu(-me) uns quantos significados. O da intolerância, do silêncio, e do distanciamento. A estes juntei ainda o do consumismo, feira das vaidades e hipocrisia. Durante alguns anos, O Natal foi isto, um conjunto de idealizações decorrentes do afastamento progressivo entre eu e a religião.
Naturalmente, as escolhas têm consequências, mesmo aquelas que não estamos preparados para enfrentar. O Ateísmo é uma opção conceptual bastante solitária, fruto de uma mistura de desilusão e falta de respostas convincentes. É um direito que me assiste, mas é uma ideia com poucos adeptos, muito pouca permissividade social e eu vinha de uma família que, tal como tantas outras, não permitia ideias dissonantes.
No entanto, de acordo com a corrente existencialista com a qual tenho bastante apreço, a liberdade de criar significados é algo inerente à condição humana. Como tal, é necessário fazer verificações periódicas das definições atribuídas, porque elas podem mudar, porque nós também mudamos.
O Natal é hoje para mim um momento de família. É uma correria de almoços e jantares e preparos e filas de espera. É saber que todos esses momentos tediosos valem a pena. É uma responsabilidade que levo a sério, onde tento proporcionar um bom momento a todos.
À refeição, quando os pratos estão a ser servidos, algumas piadas já se contaram com gargalhadas e sorrisos que transformam o rodopio numa sensação de pertença vinda do baú simbólico que todos os anos acolhe memórias reconfortantes.
A troca de presentes é um ritual onde filhos e sobrinhos expressam, nas suas caras jovens, aquela sensação de surpresa que um dia foi minha e que agora cabe-me dar aos próximos.
O Natal traz-me agora algo que nunca senti antes, que é, a paz. Olho para trás, e lembro-me dos natais que quis ter, dos bons que tive, dos péssimos que fui, daqueles onde passei sozinho e o que sobra disso tudo é a sensação da passagem do tempo e que a carga por trás de significados tão esgotantes, desapareceu.
Fica apenas a paz de (me) ser o suficiente, de não ter de ser mais nada do que isso e de que não é preciso ser religioso para se celebrar um dia ao pé daqueles que dão vazão à minha pessoa, mesmo que não concordem comigo.
Foi nisso que, ao fim destes anos todos, o Natal se tornou. O espaço de liberdade que eu sempre quis que ele fosse. Só bastou ser tão tolerante quanto eu precisei que fossem comigo.
Bom Natal.